segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Uma nova coleção...


Comecei, quase que sem perceber, a colecionar também "jogo americano" de alguns restaurantes e lanchonetes. Não precisam ficar preocupados com o fato porque não virei, de repente, uma assaltante especializada em estabelecimentos alimentícios. O que levo para casa são apenas aqueles papéis descartáveis que ficam debaixo dos pratos e copos.

Alguns desses estabelecimentos fazem disto algo instrutivo ou decorativo, artístico mesmo. Comecei com algumas fotos do Rio Antigo, do Mofo (um bar do Flamengo, no Rio); depois achei engraçadinho e interessante um outro com desenhos e informações nutricionais sobre frutas de uma pequena rede de lanchonetes... e achei necessário ter comigo. A última nova aquisição, meio engraçada, (embora, eu tenha ficado um pouco sem graça, com a publicização de tamanho interesse por um pedaço de papel destinado a ir para o lixo, após cumprir sua difícil missão de não deixar sujarem as mesas dos tais estabelecimentos) foi uma poesia de um projeto apoiado pela cafeteria onde eu desfrutava de um bom momento de compensação da semana. (E que compensação! O Caco Ciocler bem à minha frente, tomando também um cafezinho compensatório. Desculpem a tietagem, mas sou fã dele. E como poderia deixar de contar isto para vocês...)

Enfim, não resisti e trouxe para casa a belezura também (o papel - não o Caco Ciocler!), com a desculpa (para mim mesma) de que gostaria de colocá-la no blog.

Então, está posto.

Espero que apreciem esta cativante poesia da Camila. Não sei se seria falta de modéstia da minha parte, mas senti que ela poderia estar dedicando-a à mim também. Tentem só imaginar o porquê. rs Outros (as) tantos(as) também se identificarão, com certeza.


A amiga

Conheci uma menina
Que adora comer
Ela come doces e salgados
Frango assado com purê


Ela come, mas não é gorda
Também não é magra
Não entendo por que ela come
E depois fica sem graça.


Mas, enfim, ela é amiga
Amiga de se confiar.
Se você contar um segredo,
Pode ter certeza que ela não vai contar"

Camila Marinho - 12 anos


(Poesia finalista do V Festival Carioca de Poesias de 2004 - Poesia em Festa. Obras de crianças e jovens que participam de um projeto que visa "despertar e desenvolver talentos")

Maiores informações: http://www.irs.org.br/

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Seu Zé ganhou na loteria


Seu Zé, que vendia picolé, nascido na fazenda onde seus pais, negros escravos, trabalhavam, acaba de ganhar na loteria. Ganhou, mas não vai levar. Seu Zé é um zé ninguém. Mora no asilo. Seus familiares assinaram um termo de concessão de tutela para a instituição que vem cuidado do idoso há 5 anos. Seu Zé tem mais de 90 anos, mas anda, gosta de jogar dominó e da canja de galinha que nas terças-feiras é servida no asilo. Tem 5 filhos e 12 netos. Não cabia na casa de ninguém. Uma nora não gosta dele. Um genro está desempregado. Três crianças pequenas é trabalho demais para uma filha. Filho homem não cuida de pai idoso e assim por diante. Hoje, neste país, todo idoso pobre tem direito a uma aposentadoria, seja como trabalhador, rural ou não, seja através do repasse do Benefício de Prestação Continuada. O asilo onde Seu Zé mora fica com 70% do seu benefício, com os quais compra remédios, paga os funcionários, a luz, água, comida e até umas festinhas de vez em quando. Os 30% restantes, Seu Zé emprega neste pequeno luxo da vida: a jogatina. Aposta em tudo: bicho, loteria, mega-sena, até rifa e bolão. Ele está em todas. E agora ganhou. Sim, ganhou. Com isso, a vida poderia dar uma guinada. Seu Zé poderia sair do asilo, comprar uma casinha, pagar uma pessoa para lhe fazer a comida, arrumar a casa e até lhe fazer companhia. Quem sabe, não arranja uma esposa? Quem sabe a dona patroa não quer voltar para ele? Quem sabe um dos filhos não lhe aceita, ele pode pagar a reforma da casa da mais nova, comprar o terreno do mais velho. Não sabemos o que vai acontecer. O asilo já está contactando o advogado, o dinheiro é nosso. A família, do outro lado, não tem dúvidas de que aquele dinheiro pertence ao pai e só ao pai. E claro que um pai não deixa os seus filhos na mão. Pai é pai (parente do mãe é mãe). Mas para Seu Zé, nada mais importa, ele não quer saber, mostrou-me o bilhete premiado e me disse: eu ganhei na loteria, taqui o bilhete premiado! E acrescentou, num suspiro aliviado: agora posso até morrer sossegado...
Qualquer semelhança com realidades vividas é a mais pura coincidência...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Bolo de Chocolate para Vivi



Hoje inventei uma receita de bolo de chocolate em homenagem a minha prima Viviane. Prima só não, Prima-irmã!

O bolo fica bem fofinho (ela merece!) e os pedaços de chocolate, uma vez derretidos, nunca voltam a ser sólidos (hum... delícia - chocolate derretido no meio do bolo - ela merece também!)

4 ovos

6 colheres de margarina

2 xíracas de açúcar mascavo

Bate bem, bem mesmo!

Acrescente:

1 xícara de chocolate em pó

Bate mais.

150 gramas de chocolate meio amargo em pedacinhos bem pequenos

Bate.

1 pitada de sal (para os iniciates, sal é essencial em todos os doces)

2 xícaras de farinha de trigo com fermento.

Bate só o suficiente para misturar a farinha (atenção para não deixar bolinhas de farinha).

Untar a forma com margarinha e farinha. Recomendo a forma com um buraco no meio.

Assar em forno alto (250 C) por 15/20 minutos e em forno médio/ baixo (190 C) por mais aproximadamente, 10 minutos.

E aí, é acumular elogios, colocar uma cobertura e cantar parabéns! Parabéns, Vivi!

"Encontro Anual das Amigas kkk"


Recebo mais um e-mail típico de quando o ano começa a terminar. (Sim, porque todos os términos têm, também, o seu começo.) E não é que já são minhas queridas amigas e ex-vizinhas, tentando marcar mais um encontro de "fechamento" do ano. Um dos nossos rituais quase secretos de passagem para o ano vindouro.
E lá vem elas com propostas de lugar, comes e bebes e a tal "data" tão esperada para um "ritual" tão nosso.

Esses encontros se iniciaram, eu tinha uns 10 ou 11 anos, e o motivo era festejar o Natal e reunir alguns vizinhos e amigos do bairro para uma confraternização. Os pais e irmãos ou irmãs mais velhas tinham um certo respeito por esta nossa festividade - quase uma admiração mesmo, pelo nosso empenho por realizar um ritual festivo - e sempre buscavam colaborar, como fosse possível.
Hoje, mais ou menos uns vinte anos depois, já estamos um tanto separadas pela distância e não tem mais aquela coisa de quem vai trazer o "frango assado", a sobremesa ou a lazanha. Tentamos e aceitamos ser mais práticas para aproveitar melhor o principal prato da reunião que é a "nossa presença": o testemunho de que não nos largamos umas das outras, até hoje; de que apesar da vida nos puxar para lá e para cá.. estamos sempre retornando ao nosso ritual de união, de força e passagem. Uma espécie de benção da amizade!
Umas casaram; outras casaram e tem filhos; outras continuam solteiras e mudaram de cidade, de bairro, de profissão; outras ainda estão prestes a completar trinta anos e se sentindo muito importantes por isto. rs ( A maioria, porém, já é recém-balzaquiana e feliz - quero acreditar.)
E vem, então, o tal esperado e-mail (de comunicação do evento) e dele, outros tantos e-mails em cascata, de lembranças e chororôs, típicos de amigas bem sinceras, como fomos e somos; sinceras até fazer doer.
Surgem desabafos típicos de um "balanço" de fim de ano. Quase parte de um pré-ritual para o encontro..."Por que você está tão sumida..." "Vocês abriram mão da minha presença no encontro do ano passado e eu fiquei triste". "Não queremos abrir mão da sua presença, mas você está sempre tão distante". "Você não conta mais nada de ti; nem fala mais da sua sobrinha - e olha que sempre pergunto." "Minha vida não tem nada de tão novo, assim." "Ando em crise com o trabalho." "Estou sem namorado e sentindo uma baita falta de ter alguém." E por aí vai...

No final, poderíamos facilmente ir das gargalhadas escritas em linguagem virtual no assunto do e-mail original ("Encontro anual das amigas kkkk") ao choro e as lamúrias ("Encontro Anual das Amigas snif, snif... buá, buá"). "São tantas as emoções", como Roberto Carlos bem cantou, e elas cabem todas muito bem, num ano só.
Temos, porém, todavia, contudo, esta espécie de ritual do fogo, de queima e transmutação de dores e alegrias, que nos traz força renovada para uma nova etapa de vida; que já já precisa nascer. E como isto é esperado (mesmo que inconscientemente) dentro de nós!
Menina MA
Fonte: Imagem do site Amigas do Peito; uma Ong de fundada por mulheres de apoio a amamentação. Aproveite e faça uma visitinha. http://amigasdopeito.wordpress.com/amigas/

2009: Ano Bom!



Feriados 2009 - Brasil/ Rio

01/01/09 quinta-feira /Confraternização Universal
23/02/09 segunda-feira /Carnaval
24/02/09 terça-feira /Carnaval
10/04/09 sexta-feira /Paixão de Cristo
21/04/09 terça-feira /Tiradentes
01/05/09 sexta-feira /Dia do Trabalho
11/06/09 quinta-feira /Corpus Christi
07/09/09 segunda-feira /Independência do Brasil
12/10/09 segunda-feira /Nossa Sra. Aparecida - Padroeira do Brasil
02/11/09 segunda-feira /Finados
15/11/09 domingo /Proclamação da República
20/11/09 sexta-feira /Zumbi/Consciência Negra
25/12/09 sexta-feira/ Natal

Pois é, serão 8 Feriados na Seg/Sex e 4 feriados nas terças e quintas.
Total: 12 Feriados (em dia útil)

Se a gente contar as emendas de Feriados, são mais 4, ou seja, 16 ao todo. Temos ainda 57 finais de semana, então são mais 114 dias (sábado e domingo). E se você tem direito a 1 mes de férias, então são mais 30 dias.

Se a gente somar tudo, são 160 dias de puro ócio. Então sobram exatamente 205 dias de atividade.

Se você reparar bem, são só 7 meses que você vai trabalhar no ano que vem!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A mulher feia

Sou fã de carteirinha da Regina Casé, mas vê-la neste domingo do Fantástico foi, no mínimo, constrangedor.

Ela, a típica mulher "bucha de canhão", acompanhava entusiasmada uma cantiga que tem por maior mérito ridicularizar e desfazer da mulher feia, a tal da dona Gigi. Alguém poderia se perguntar: ela não se enxerga, não?

O que vi foi uma cena deprimente. Não era exatamente contra isso tudo (e mais alguma coisa) o trabalho da Regina Casé ? Contra preconceitos; mostrando o outro lado das favelas; abrindo clareiras nas selvas de pedras?

Repudio estas músicas com tanta veemência que estou muito interessada em ouvir uma opinião contrária, uma opinião que me mostre algo de positivo ou construtivo nestas músicas.

***

Será que esta imagem de mulher feia não quer dizer, simplesmente, mulher pobre? O que é "o lá dá uma gente tão feia", "ô povo feio"....

domingo, 30 de novembro de 2008

"E não nos deixeis cair em tentação..." (Comentários sobre o post "Ave Nilza cheia de graça")

O jantar no Brasil, Jean-Baptiste Debret.



Achamos interessante publicizar um debate importante que começamos a travar a partir de um Post que coloquei no blog.
Seria rico se alguém mais pudesse contribuir e apresentar mais uma forma de "olhar", sentir ou pensar a questão.
Até porque não teríamos como encerrrá-la, penso eu.
Menina MA

Menina F disse...
Menina MA fala das relações entre domésticas e filhos/filhas de patroas que parecem bem típicas das relações sociais brasileiras. Será que isto tem raízes da Casa Grande, que como Gilberto Freyre fala, estava sempre cheia de escravos domésticos e seus filhos? E da relação amorosa entre a ama de leite e o senhorzinho, do ciúmes da senhora branca do mulher negra escrava com o senhor branco... Enfim.
Mas eu queria era contar um caso que me aconteceu. Um francês em minha casa ficou surpreso com o fato de que a empregada doméstica, aqui chamada de "secretária" ( - porque não chamamos os negros de negros, as empregadas de empregadas?), sentar-se à mesa do almoço junto com a família. Ele perguntou: mas quando você vai ao restaurante você chama o cozinheiro para sentar com você? É a mesma relação: você paga para alguém cozinhar para você.
Esse hábito, motivo de orgulho para a minha família, olhado de um ponto de vista estrangeiro, parece menos sujeito a qualquer forma de aprovação, me lembra mais as relações cruéis de sujeitação emocional da Casa Grande.... lembra o desenho do Debret? A negra abanando a senhora, o menino negro brincando no chão e mesa farta posta para o deleite dos senhores.
Temos dificuldade de dar nomes aos bois, assumir nosso preconceito, assumir nossa sociedade altamente hieraquizada, cada macaco no seu galho, preto, branco, pobre, rico, sem misturas. Tanto medo e tanta covardia que vamos inventando formas de relação perversas como a Casa Grande, a democracia racial, as favelas, o rei disso o rei daquilo... mas por que não assumimos logo a nossa condição de súditos?
29 de Novembro de 2008 12:39
Menina MA disse...
Quando escrevi este post e reli, sabia que poderia dar margem a vários outros comentários, interpretações... mesmo assim, quis arriscar abrir o coração e "rasgar o verbo" ou a "taioba", como se diz lá em Minas. Pois bem, é para isto que se serve a escrita ("se serve" mesmo, não foi erro de concordância). Isto é bom para desanuviarmos as idéias, dando um melhor acabamento a "obra", como bem nos ensina um grande filósofo da linguagem, Bakhtin.
Li também "Casa Grande e Senzala" e estudei algum tanto de relações raciais no Brasil e em outros lugares do mundo; refleti também sobre a tão proclamada "democracia racial" que escamoteia muito bem o lugar de cada um nesse nosso "lugar" maior, chamado país. Há uma hierarquia sim, forte, que quase ninguém quer de fato mexer porque quase todo mundo "acha" que vivemos bem assim, tão "felizes" por tudo poder se misturar e ao mesmo tempo ficar em seu devido lugar, quando o "samba" pára de tocar. Porém, há algo de bem mais complexo nisso tudo.
Pensar esta nossa realidade é mesmo algo muito mais complexo e indeterminado, como Morin poderia dizer; tão mais além vão todas essas relações, valores, poderes e afetos... Há tanta subversão e sutileza escondidas também dentro da riqueza deste "cotidiano"; do vivido no dia a dia da atualidade e do passado, deste país. Há também um certo hibridismo nas formas de existir que é fruto de toda esta confluência cultural e conjuntural; que faz surgir também concepções inovadoras ou pelo menos pouco conformadas (mesmo que num movimento micro). Não tem como ser simples ou usar uma lógica compartimentada nestes assuntos, quando eles dizem respeito ao nosso mundo pessoal; não tem como ser politicamente correto porque soa, e seria, falso. Há sim, afetos, valores e concepções sendo criadas, questionadas e redimensionadas - sempre houve, acredito eu - porém, nunca numa dimensão tão revolucionária (pelo menos não, neste nosso país).
Mas, resumindo, e voltando ao cerne da questão inicial, não deixo de ser a "patroa" da Nilza (eu é que pago pelo trabalho contratado com ela... mesmo estando no vermelho) e também não deixo de gostar da companhia dela à mesa, somente porque gosto de bater papo com ela e construímos uma certa empatia recíproca - e por que não... (Não me sentindo, porém, mais bacana ou "cordial" por isto; não mesmo! Acho somente uma sorte poder não me sentir separada dela por um abismo infinito causado pela erosão de nossa desigualdade social e esta convivência ser de alguma forma, também, muito enriquecedora).
A diferença é que tendo alguma consciência disso tudo que foi dito acima; vivo no Brasil de hoje... num país onde ainda reina a desigualdade, o desemprego e a pobreza... o subemprego, a exploração de mão de obra (até mesmo escrava) e a miséria.
E sabendo (hoje) que não posso mudar tudo e inverter qualquer ordem neste país ou quiça no mundo, sozinha... descobri (dentro desta solidão) que posso começar a subverter algo no meu mundo interior; seja no mundinho do meu pequeno conjugado, da minha mente ou do meu coração. (rs)
E realmente não sei se há racismo ou "sujeição emocional"melhor... se seria o "à francesa" (mais frio e impessoal, talvez) ou o "à brasileira"(afetivo e caloroso até demais). Todos eles, na minha opinião, são péssimos "pratos" para se servir, quentes ou frios.
29 de Novembro de 2008 21:49

Orgasmos Múltiplos


Meninas, algumas de vocês vão achar este meu texto de uma inocência sem par. Mas acho que vale a pena escrevê-lo para compartilhar com vocês a descoberta que um dia, com a ajuda de uma amiga, eu fiz. Se eu não sabia, do alto dos meus 20 e poucos anos, é provável que outras também não saibam.

Orgasmo múltiplo não é bicho de sete cabeças. Não precisa ser uma deusa sexual, nem ter um parceiro/a sensacional. Basta tentar! Tem gente que acha que orgasmo múltiplo é para atletas sexuais, praticantes de sexo tântrico e o escambau. Eu afirmo que não, do fundo da minha mais convencional vida sexual, posso afirmar: orgasmo múltiplo é para todo mundo! Não tem mistério e eu vou te contar, agora mesmo, como se faz!

Sabe quando você tem um orgasmo? O que acontece depois? Você pará, relaxa, curte a delícia da sensação? De hoje em diante, não pare! Continue. Dê asas à imaginação se estiver sozinha e, se acompanhada, peça mais! Daí, tchum! Garantido: orgasmo múltiplo. O orgasmo que vem depois é diferente, mais intenso, até por que as partículas nervosas já estavam em “estado alterado de consciência”. Imagina com uma segunda carga nervosa!

Então, queridas, acho que, como o nome diz, não tem limite para o número de tentativas, o orgasmo pode realmente ser múltiplo. E não tem contra-indicação. Caso vocês se aventurem, com êxito ou não, nada mais generoso que nos contar... Aguardamos.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Para dar uma risadinha

A ESTRANHA BELEZA DA LÍNGUA PORTUGUES

Este texto é dos melhores registos de língua protuguesa que eu tenholido sobre a nossa digníssima "língua de Camões", a tal que tem famade ser pérfida, infiel ou traiçoeira.

Um político que estava em plena campanha chegou a uma pequena cidade,subiu para o palanque e começou o discurso:

- Compatriotas, companheiros, amigos! Encontramo-nos aqui, convocados,reunidos ou juntos para debater, tratar ou discutir um tópico, tema ouassunto, o qual me parece transcendente, importante ou de vida oumorte. O tópico, tema ou assunto que hoje nos convoca, reúne ou juntaé a minha postulação, aspiração ou candidatura a Presidente da Câmaradeste Município.

De repente, uma pessoa do público pergunta:

- Ouça lá, porque é que o senhor utiliza sempre três palavras, paradizer a mesma coisa? O candidato respondeu:- Pois veja, meu senhor: a primeira palavra é para pessoas com nívelcultural muito alto, como intelectuais em geral; a segunda é parapessoas com um nível cultural médio, como o senhor e a maioria dos queestão aqui; A terceira palavra é para pessoas que têm um nívelcultural muito baixo, pelo chão, digamos, como aquele alcoólico, alideitado na esquina.

De imediato, o alcoólico levanta-se a cambalear e "atira":

- Senhor postulante, aspirante ou candidato: (hic) o facto,circunstância ou razão pela qual me encontro num estado etílico,alcoolizado ou mamado (hic), não implica, significa, ou quer dizer queo meu nível (hic) cultural seja ínfimo, baixo ou mesmo rasca(hic). E com todo a reverência, estima ou respeito que o senhor memerece (hic)pode ir agrupando, reunindo ou juntando (hic) os seushaveres, coisas ou bagulhos (hic) e encaminhar-se, dirigir-se ou irdireitinho (hic) à leviana da sua progenitora, à mundana da sua mãebiológica ou à puta que o pariu!

Para descontrair quando nos sentimos o próprio Cascão!

Fonte: Maurício de Souza
http://i82.photobucket.com/albums/j250/faxina/aaaa.gif

terça-feira, 25 de novembro de 2008

"Ave Nilza cheia de graça..."


Outro dia de faxina...
Nilza chega cedo e me acorda com a campainha (isto porque tive uma noite de sono interrompida pelo vizinho de cima, mais uma vez...). Ela chega e já me sacode com toda a sua presença; com aquela sua voz sonora e ritimada e um sotaque levemente carioca. Ela vem e seu modo animado e peculiar de falar traz uma energia de mudança, transformação... limpeza.
Então, esse espacinho aqui de casa se revoluciona. Fico impressionada com o tanto que ela faz; com a facilidade, rapidez e sutileza com que encontra coisas e coisas pra fazer e "mexer" num lugar tão pequeno. "E esta roupa aqui... Ih, ainda não consertou a máquina de lavar, não é... Olha, eu tirei aqueles seus papéis do cantinho e limpei porque estava juntando muita poeira." (E eu que tinha dito- por pura vergonha- que esse cantinho bagunçado com papéis não precisava limpar...)
Bem, Nilza chega e literalmente algo "acontece". Ela me "acorda"! Dá-me uma "sacodida"!
Sabe o que é ter alguém para te ajudar a cuidar de suas coisas mais íntimas e cotidianas; das suas desorganizações, dos seus desconsertos e "sujeiras". Ela acabou virando parte integrante do meu espaço, da minha vida, da mágica fórmula para o meu equilíbrio interior (e exterior).
Ela atua como uma espécie de bruxa... uma curandeira... Uma "faxineira espiritual" é a Nilza! (E ela que não me ouça dizer isto porque é batista, daquelas que usam saias na altura dos joelhos e cabelos compridos.)
Ela fala!!! Compete comigo "pau a pau" nisto. E eu adoro ouvir ela falar. (Eu até fico calada...) Acabo atrapalhando o ritual da faxina e perguntando coisas para render um assunto ou chamando ela repetidamente para vir tomar café à mesa comigo, para me contagiar com a sua energia poderosa .
Peguei-me pensando que em tão pouco tempo que a conheço, já me sinto bem apegada à sua pessoa. Ela também demonstra o "e vice-versa" disto, quando faz cara triste se eu ainda não tenho o dia certo para marcar "a próxima". Mas ela está mesmo precisando do trabalho; tem família pra criar. O que me contenta é que, às vezes, ela se empolga com nossos papos sobre comida, cozinha e estórias longas de quando começou a trabalhar em "casa de madame" e eu é que tenho que mandá-la embora para ela não perder a festa da igreja, para qual ensaiou o mês inteiro e fez até uniforme.
Tenho vontade de rir quando imagino que ela possa falar de mim assim, do mesmo jeito que fala de outra "patroa" - forma como ela gosta de tratar as "donas" das casas nas quais ela trabalha ou já trabalhou. Já posso até"escutar" os seus comentários, quando ouço ela me chamar de "Dona Maria". (E "dona" é uma escolha tão dela que não adianta eu tentar mudar. Tenho que respeitar.)
Nilza ama o que faz e tem orgulho disso. Ela brilha os olhos ao falar que o doutor gostou muito mais do seu gnochi que o da outra cozinheira da casa; fica prosa com os elogios da outra patroa ao embelezamento que dá em suas saladas e ressalta os conselhos que dá à irmã, sobre com qual frequência limpar os vidros das janelas. Ela explicando como gosta de decorar a salada, fazendo florzinhas com (como é mesmo que chama aquilo...) é bom demais de ouvir.
Não gosto muito da idéia de ter alguém para cuidar do trabalho de casa enquanto eu fico com os pés para cima e as mãos abanando; além do fato de a grana estar meio curta para isso. Só chamava bem de vez em quando, em épocas de aperto, quando não dava mais para aguentar. (Minha relação com as empregadas domésticas e faxineiras que trabalharam em minha família eram muito misturadas com amizade, afeto.... causando ciúmes`a minha mãe; e isto era um tanto problemático).
Sinto, porém, que não chamar a Nilza agora, pelo menos uma vez ao mês, é não ajudá-la a sustentar sua família e deixar de compartilhar meu lar com ela. Aqui também já é seu espaço; um pequeno espaço que nós duas cuidamos - cada uma à seu modo.
Como disse a ela da última vez que esteve aqui: "Acho que a casa estava com saudades de você!"
Acho que esse lar precisa mesmo da Nilza e de sua presença sempre cheia de graça!
Amém. (Que assim seja.)
Menina MA

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Para descontrair durante a sua TPM ou a da sua mulher, amiga, filha, vizinha, etc.


Comentários de uma Menina "Descomportada" (ou com TPM)


Acabo de ler uma coluna de um site feminino de uma doutora em comunicação... E a coluna tem um nome que já não me é muito simpático ou "fácil de engolir" porque tem o nome: "Comporte-se". E tudo o que uma mulher desde menina ouve é esta frasezinha chata: "Comporte-se". (Acho que não ficaria muito bem num bom site feminino, visto que a maioria de nós, mulheres, fomos tão recalcadas com o tal "Comporte-se! Você já é uma mocinha" Ou "você é uma menina/garota!")
Não sei se por já ser um tanto "descomportada" ou uma "sem paciência" com certas palavras ou expressões mal colocadas, e (ainda) estar com TPM...
Lendo a tal coluna e tendo estudado um pouco e convivido anos com pessoas que vivenciam questões como a diferença "racial" - e mais especificamente, a do negro em nosso país; não pude deixar de "deixar" um comentário nesta coluna. (O que raramente faço; apesar de não saber se vão mesmo publicá-lo.)
Bem, por via das dúvidas, vou "deixá-lo" aqui também, e não perder um espaço para o meu desabafo.
Leiam primeiro a coluna, se quiserem entender o meu incômodo; um tanto amplificado pela TPM http://delas.ig.com.br/comportamento/comporte_se/2008/11/08/michelle_obama_e_o_destino_do_onibus_de_montgomery_2102219.html
E posteriormente....

"Comentários como "mas a eleição de um negro para a Casa Branca atesta que a luta pela igualdade entre brancos e negros chegou ao fim" ou de que a "tolerância" seja um "valor máximo", deveriam, na minha opnião, ser colocados com maior cuidado em um texto que aborde questões raciais. Em primeiro lugar, porque uma luta tão ampla e sutil como a de quem vive a questão racial "na pele" não termina aí; com um fato histórico a mais. (Embora, adorasse que este conto de fadas "a la cinderela" virasse mesmo "abóbora".) E para finalizar (o que não tem bem um final...), "tolerância" é um valor médio; na verdade, mediano mesmo... desses que nos dão até um pouco de vergonha, mas que ainda são necessários num mundo dominado por valores tão etnocêntricos.
Alguém à tolerar ou uma etnia à tolerar nos faz sentir o quanto ainda somos insimesmados, cheios dos nossos valores."
Menina MA (de TPM)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

"A Majestade, o Sabiá"

Em homenagem ao sabiá da Menina F.
Foto tirada pela Poena na Pousada do Vale (do tio Lédio e tia Nazaré) em Lumiar, durante um café da manhã "de roça" delicioso, no quintal deles.
O tio Lédio e a tia Nazaré deixam frutas para os passarinhos se servirem à vontade durante o café da manhã; e lutam com os macaquinhos que querem comer os filhotes dos pássaros.
O tio Lédio gosta muito de viajar e ouvir cantos de pássaros raros, gravados pelas matas do Brasil à fora.
Menina MA
Obs.: Quem não os conhece, ficaria feliz com a oportunidade de boa prosa. Caso um dia passem por lá, todos no lugarejo vão saber indicá-los "como faz pra chegar".
O tal "café colonial" que eles servem na pousada - para hóspedes e não hóspedes - é um agrado ao corpo, mas também faz bem ao coração...
Na minha humilde opinião, acharia até mais "chic" ou "combinante", "café da roça" ou coisa nesse estilo.

sábado, 8 de novembro de 2008

O gato à solta








Nesta tarde um sabiazinho recém saído do ninho apareceu no nosso quintal. A gata Neguinha veio vindo de mansinho, avançando sorrateiramente, como é próprio dos gatunos. Minha mãe, com a bacia de roupa lavada nas mãos, começou a gritar, tentando dissudir a gata de que ali não estava seu jantar. Gritou, gritou, gritou - abrindo os braços e fazendo movimentos horizontais frenéticos - como se fosse a própria Sabiá-Mãe batendo suas asas. Depois segurou o gato e o trancou no quartinho dos fundos. Coitada da gata, ficar presa o dia todo, também não pode, disse minha mãe. Interessante é que a gata mata os passarinhos, mas não come. Será que perdeu o paladar para carne crua e sangue, depois de tanta ração de supermercado? O fato é que ainda é caçadora e corre atrás dos passarinhos inaptos para o vôo.



Mas não era disso que eu queria falar. Queria era te contar do casal de sabiás, muito altivos e prontos para a briga, que acompanhou todo o episódio. Quando a gata vinha vindo, os Sabiás-Pais começaram um algazarra, que atraíu toda sorte de passarinho: pardal, tico-tico, andorinha... e a sinfonia foi alta e desesperada, pi pi pi, fi fi fi, uuuu! Os Sabiás adultos batiam suas asas, sobe desce sobe desce sobe desce! Voavam baixo, fazendo acrobacias, perto do filhotinho. Protegiam o filhote da gata e da minha mãe - prontos que estavam para dar umas boas bicadas aproveitando um dos seus razantes. Os outros pássaros, acompanhavam o desfecho sem se aproximarem muito, pousados no varal de roupas, no telhado, no portal.



Se você quer saber se o passarinho sobreviveu, sabia que eu também quero. Mas eu não sei. A noite é escura, o quintal dá medo e o gato está à solta.





Para ouvir o canto do sabiá enquanto o gato não vem: http://www.picarelli.com.br/clipping/clip25092003b.htm

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Fugindo da competição...

Conversando com uma amiga esses dias sobre um assunto sério que sempre que vem, invade, porque circunda nossas vidas, lembrei-me de um outro "achado"...
É que nesta época de "precarização do trabalho" (palavras dela que leu de algum autor) e da formação de um exército de mão-de-obra reserva, devidamente "bem treinado" pelo neoliberalismo; e com todas as pendengas que temos que passar nesta "vida a vida" (palavras bonitas de Clarice Lispector) por conta deste papel "descartável" que representamos para o mercado (E me digam em qual "espaço" ainda esta lógica não se impregnou?); uma boa inspiração surge novamente no "achados e perdidos" de minha geladeira. rs
Não é aquilo de "abrir a geladeira para pensar", como boa parte de nós fazemos e que nos acarreta culpa por ser algo caro e ultra anti-ecológico. rs
Vou é meditar com as frases de uma estadista indiana escritas num dos imãs da minha geladeira.
"Há dois tipos de pessoas: as que realmente fazem as coisas e as que ficam com o mérito. Procure ficar no primeiro grupo. Há menos competição lá."
(Indira Gandhi)
Pelo menos (quem sabe) salvamos nossa alma da competição desenfreada por um pequeno "espaço", dentro de qualquer "espaço", para obter alguma parcela de auto-realização. Se é que ainda podemos sonhar como Marx e alguns de seus seguidores, com um trabalho que nos traga uma forma de nos realizarmos. (No entanto...) como professo a "Pedagogia da Esperança" bem ensinada por Paulo Freire, acredito que o melhor mesmo é ter um pouco mais de fé.
Então, "mãos à obra"! (Como diz um certo frei que conheço.)

Menina MA

Indira Gandhi. http://www.congresssandesh.com/oct-2003/images/indira_gandhi.jpg.
O título do livro da Clarice Lispéctor do qual retirei a expressão"vida a vida" é "Água viva". (Desculpem-me, mas não sei a página.)
O frei que cito por admirar muito sua coragem em ter idéias e percepções independentes (independentemente de ser ou não religioso) é o Frei Cláudio van Balen - que fala e escreve bonito... (Ele adora a palavra/expressão "beleza!")
Querem uma provinha? Leiam o artigo dele entitulado "Em busca de sentido" aqui http://www.igrejadocarmo.com.br/ Pesquise no link "artigos". Tem muitos outros textos interessantes, em minha opnião; mas acho que este possui um "link" especial com esta reflexão do blog.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

"Hoje é outro dia" como bem profetizou Mário Quintana

Acho que não podemos deixar passar "de liso" o momento histórico que estamos presenciando. A vitória do democrata Barack Obama para a presidência dos EUA (Ou, como gosto de brincar, para a presidência do mundo! Tal a influência na vida do restante do globo) simboliza uma mudança de paradigmas e o reforço da democracia; uma "fé" que já vinha "pra lá" de desacreditada como fonte para resolução de todos os males e males... Amém!
Acabo de ler o discurso do mais novo e mais importante "líder do universo" e achei importante compartilhar. (Lembrei-me das leituras que fiz da clássica coletânea "Os Federalistas"(Filadélfia, 1787) - que é que o processo de independência nos EUA sendo comentado e debatido pelos próprios "mentores" e legisladores que faziam parte da construção daquele momento. Eles publicavam seus textos nos jornais da época, fomentando um debate forte de idéias e princípios que vieram definir boa parte do futuro da nação deles.)
Se quiserem saber mais sobre o esse outro momento histórico, achei este link:http://pt.wikipedia.org/wiki/História_dos_Estados_Unidos_da_América_(1783-1815)
Mas, "enquanto isto, na sala de justiça..."
Vamos passar a palavra ao novo "Supem Homem".
"E que Deus abençoe a América."
E que Deus abençoe aS AméricaS ÁfricaS, ÁsiaS e EuropaS, caro Obama!
Menina MA

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Um "outro ensaio" sobre a cegueira ou uma "nova cena" sobre a visão




Alguns dias depois de ver o filme dirigido por Fernando Meirelles (que nos dá motivo para sentir orgulho do fato de sermos brasileiros), volto a vida normal. A cegueira branca tão bem retratada pelo moço nos faz perder a fala; ficamos meio mudos.
Ler o livro de Saramago sobre a cegueira não encerra as visões que podemos ter com sua bela ficção/reflexão literária. Não tem muito o que dizer... Vale a pena ver, quem tem olhos de ver, ou pelo menos ouvir atentamente os sons desta belíssima encenação (montagem) cinematográfica.

Trabalhei com um professor que era cego durante alguns anos. Lia para ele algumas vezes e, talvez, esta convivência tenha sido uma das coisas que mais alteraram os meus "sentidos". Ele me emprestava sua visão do mundo e eu emprestava os meus olhos à ele. Emprestava a minha voz (também), tão desperdiçada, para dar vida as palavras amortecidas nos livros de história, placas de ônibus ou cardápios de lanchonete.

Mas, poucos dias depois de ter visto o tal filme do tal livro que deu origem a um "ensaio" sobre a cegueira, presenciei uma "cena" viva, pulsante, que cobria a cegueira e a visão - tudo junto e ao mesmo tempo. (Ainda não tivesse a tal linguagem para transformá-la num "ensaio".)
Um casal formado por um homem e uma mulher cegos, caminhando por um passeio com sua filhinha bem pequena, que enxergava.
A menina olhava para todos os lugares ao seu redor e comentava o mundo que via com os pais; que ao mesmo tempo em que tentavam advinhar o que ela estaria enxergando, davam-lhe uma orientação àquela visão.

A "cegueira" dá a luz a quem enxerga... A cegueira dando orientação à uma "nova" visão.
Metáforas para "ensaios" e "cenas" que envolvam os sentidos.
Menina MA


quinta-feira, 30 de outubro de 2008

São Pedro da Serra ("Toda paz do Universo")

"Há um vilarejo ali, onde areja um vento bom
Na varanda, quem descansa... Vê o horizonte deitar no chão."
Neste último final de semana com um "meio feriado" na segunda (a antecipação do dia do funcionário público) tive a grata surpresa, já um tanto aguardada, de conhecer um lugarejo com uma paz renovadora; em meio à montanhas, pedras e águas cor de coca-cola.
Acho que em São Pedro da Serra (Nova Friburgo - RJ), tudo fica muito poético; até a cor de coca-cola da água vira poesia. rs Não é por acaso que a placa que fica na entrada, possui a seguinte inscrição: "Toda a paz do universo" a 4 km.
Lá a respiração fica mais lenta... o sol nasce devagar e bonito atrás das montanhas, em meio a um céu azulado. E as nuvens fazem aqueles desenhos que só quando pequenos sabíamos contemplar direito.
Uma experiência tão peculiar, particular, acaba trazendo mesmo o desejo de se compartilhar.
E foi só começar a querer escrever, que a música da Marisa Monte veio tocar ao fundo... Vou dedilhá-la para vocês, nas teclas do meu computador:

"Lá o tempo espera... Lá é primavera... Portas e janelas ficam sempre abertas pra sorte entrar"

E não é que lá é assim mesmo - sem tirar nem colocar.
E como se não bastasse, é um lugar onde habitam pessoas muito bonitas.
(Nem querendo passar perto daquelas expressões execráveis como: "em tal lugar dá uma gente bonita" ou - o que seria pior ainda- "este lugar tem uma gente feia". Eu vivo a me perguntar, quando ouço bobagens desse tipo, se esta "diferença" estética não se dissiparia com um pouco mais de dinheiro - bons shampoos, cortes de cabelo, cremes e roupas "da moda", etc. As tais pessoas ditas "feias" se tornariam magicamente "bonitas" e vice-versa, e coisa e tal.)

Quando escrevi a frase mais acima, quis falar de pessoas que sorriem largo... esbanjam simpatia e gentileza - alegria de viver. Gente como a Zelma, como a Morena (que mora no lugarejo ao lado, Lumiar) ou como o Tiago que acabou de se mudar.

A Zelma na sua lojinha de artesanatos, livros e CDs - uma espécie de centro cultural de São Pedro. Lugar onde ela expõe sonhos pontilhados por ela mesma em tecidos, com a arte do Patchwork. Ela consegue retratar o lugar de uma maneira literalmente "fofa"- como ele realmente parece ser... de algodão. Isto sem falar no seu papo gostoso sobre literatura, música, viagens. Quem já pensou em ir a uma loja de souveniers e sair de lá com mimos que a própria dona da loja não deixou você comprar porque queria simplesmente lhe dar de presente. É o respeito ao círculo da dádiva... aos vínculos nascidos nas trocas sinceras e "bem para além" das transações mercadológicas.
(Vocês podem conhecer a Ecoarte, da Zelma, aqui http://www.ecoartebrasil.com.br/ E não deixem de clicar na seção "idéias" que possui alguns artigos para quem quiser saber mais sobre a história, ecologia e assuntos afins ao lugar.)

Como não apreciar também a beleza na pessoa de Morena, que com um sorriso luminoso e os braços abertos, nos dá aquele acolhimento de "vidas passadas" - já que você ainda não a conhecia, desde então. Poder experimentar o seu suco verde, demorado (preparado especialmente para você, a partir de uma consulta cuidadosa) e comer o shapati (massa com cereais integrais) recheado com doce de banana feito por ela no dia. Esta artesã de orixás, morena, de cabelos lindamente grisalhos e sorriso radiante, conquista o coração de qualquer pessoa que tiver a sorte de encontrá-la. Acho que ela já faz parte daquela outra dimensão - a do tão proclamado e pouco usado, amor incondicional.

E, por último, narro mais um "grande encontro" proporcionado por São Pedro (não sei se pelo santo mesmo, ou se pelo lugar), o Tiago. Menino-homem, com olhar sensível; apaixonado pelo que quer fazer na vida; falando com sua voz calma e emocionada, que busca inspiração olhando para cima, ao recitar poesias árabes que acabou de aprender, seus salmos preferidos, ou a visão de filósofos um tanto desconhecidos.
Tudo isto em uma noite na qual consegui me embebedar e ter ótimos devaneios tomando uma só taça de vinho (juro!) no boteco/casa do qual já me esqueci o nome (mas que ainda não me saiu da lembrança).
Acho que foi o banho de cachoeira!!!
Foi a inspiração divina que recebi das águas cor de coca-cola!
E "é isso aí" (mesmo)! Como diria o slogan.
Vou indo, deixando a mesma música que não consegui fazer parar de tocar

"Pra acalmar o coração... Lá o mundo tem razão"

Menina MA

Obs.:
Vilarejo - Marisa Monte www.youtube.com/watch?v=-g83_ZRGM48
As imagens postadas são dos patchworks feitos pela Zelma e estão disponíveis na página da Ecoarte.
Sites onde há informações sobre hospedagem, eventos e festas tradicionais do lugarejo. http://www.saopedrodaserra.tur.br/ http://www.lumiaresaopedrodaserra.com.br/

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A ação da imprensa brasileira num caso de sequestro


Isto aqui não é um blog jornalístico, em essência, mas podemos trazer matérias que nos fizeram pensar. E querendo ser democrática, achei muito interessante a crítica feita pelo ex-comandante do BOPE, sociólogo, co-autor do livro "A Elite da Tropa" e roteirista do filme "Tropa de Elite", Roberto Pimentel.

Ele fala em uma entrevista, sobre a infeliz participação da imprensa num sequestro de tamanha gravidade, como o acontecido em Santo André (SP) nos últimos dias - o que, na opinião dele, prejudicou o desfecho do caso.

Não vou me estender, caso alguém queira se informar melhor sobre a matéria, acesse o endereço abaixo.


Menina MA

"Tentando engolir as tragédias da tela"


Li uma boa reflexão feita por uma jornalista de um site feminino, Adilia Belotti, sobre o sequestro ocorrido em Santo André, que terminou a com a morte da refém, a adolescente Eloá.

A autora aborda vários pontos com os quais concordo, em especial, quando coloca que o fato ocorrido não está tão longe de nós, pelo fato de ter se passado "do outro lado da tela".

Quando entramos nos meandres mais humanos e sócio-culturais do caso, nos deparamos e identificamos questões comuns ao nosso "infinito particular" (como cantou Marisa Monte).

Deveríamos então nos preocupar com algumas questões em torno desta tragédia. Fica aqui a minha sugestão.

Menina MA



Obs.: A imagem é do site Delas ig: foto da jornalista Adilia Belotti. Gosto muito dos textos desta colunista.

Para quem está em Brasília


Foto: Michel Brunet, paleontólogo francês, compara o Homem de Toumai (esq.) com um chimpanzé.


PALEONTOLOGIA

Michel Brunet faz palestra na quarta
O paleontologista francês Michel Brunet, responsável pela descobertado crânio de hominídio mais antigo do mundo, faz palestra nestaquarta-feira, 22 de outubro, às 19h, no auditório da Fundação deEmpreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), próximo à L3Norte.
O especialista e sua equipe encontraram em 2001, na África Central, um fóssil batizado de Toumaï, de 6 a 7 milhões de anos. Até então, o registro mais antigo de um hominídeo datava de 3 milhões deanos, então nominado Lucy.
O evento tem o apoio do Instituto deGeociências da UnB e ocorre por ocasião da Semana Nacional de Ciênciae Tecnologia. O auditório tem capacidade para 200 pessoas.
Entrada gratuita.
Informações pelo 3348 0479.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Provérbio Indiano num Imã de Geladeira


Acho que já disse aqui, que comecei há algum tempo a colecionar frases de imãs de geladeira. Não sei exatamente porque, mas... aconteceu. Alguma frase me pegou de jeito e pronto.
Eis que esses dias... um dia após eu dar alguns desses mimos para uma amiga, de aniversário, eu ganho uma dessas "frases" de presente também.
Atravessando de manhã, uma rua da Glória no Rio, dou de cara (pasmem!) com um imãnzinho dentro de uma embalagem de plástico. Caído; abandonado; todo molhado... e quase dilacerado.
Evidentemente que tive que resgatá-lo rapidamente e salvá-lo daquele perigo de se extinguir em meio aquela rua enlameada de chuva.
Já pensou o que representaria para mim, deixar mais uma "frase" ser desperdiçada, descartada para o lixo? Ou o que seria perder aquela frase (talvez, importante ou até muito importante) para a minha vida?
Mas a "frase" falava justamente de silêncio:

"Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores do que o silêncio."
(Provérbio Indiano)
Uma boa inspiração para quem gosta tanto de falar ou escrever, como eu.
Menina MA


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Um imenso grotão? por Otavio Velho

Texto do antrópologo Otávio Velho (professor emérito da UFRJ/ Museu Nacional) para a Folha de São Paulo, de 31 de outubro de 2006, analisando as eleições de 2006, quando Lula foi reeleito.

UM IMENSO GROTÃO?



Otávio Velho




Em décadas passadas, pesquisei, no Sul do Pará, como os pequenos agricultores eram atormentados pela possibilidade da “volta do cativeiro”, assunto recorrente entre eles e que tinha a ver com as ameaças brutais e permanentes a sua existência social. Retornando recentemente à região, fui surpreendido pelos testemunhos de que já não se fala mais disso e de que, ao contrário do que parecia ser o seu destino inexorável, os pequenos agricultores não desapareceram. Hoje, organizados de variadas maneiras, recuperaram muitas das terras que haviam sido ocupadas ilegalmente pelos grandes proprietários desde o século XIX. O outrora poderoso patriarca da principal família da oligarquia local encontra-se em prisão domiciliar, acusado de assassinato.
Testemunhos como esse se multiplicam e são trazidos por diversos observadores de várias regiões do país, sobretudo Norte e Nordeste: atividade intensa na produção e no comércio local, novas iniciativas, uma nova dignidade. Despercebidas das camadas médias das nossas metrópoles, transformações importantes vêm ocorrendo, ainda que as disparidades sociais permaneçam imensas.
Pois é em ambientes como esses que muitas vezes são implantados os programas sociais do governo. Ou seja, esses programas não só não partem do zero como demonstram capacidade de afinar-se com o que já vinha se dando. Ajudam a acelerar as transformações em curso que levam seus protagonistas a multiplicar suas articulações e a ganhar uma percepção globalizada da situação. Esses programas não podem ser paternalistas: os agentes governamentais é que seguidamente têm que “correr atrás” do que já vem ocorrendo.
Os habitantes dessas regiões em geral sabem disso, o que explica por que nestas eleições votaram maciçamente em Lula - figura certamente paradigmática e com a qual estabelecem uma comunicação que não é só a das palavras. Assim votaram não por terem sido submetidos a uma nova servidão, pois o que está em jogo é a libertação do cativeiro, inclusive do cativeiro político, substituído por uma disponibilidade para o estabelecimento de parcerias com os agentes sociais que estejam dispostos a se aliar a eles.
O ambiente social e econômico de intenso dinamismo faz lembrar por analogia os efeitos do microcrédito, que foi responsável recentemente pela outorga de um Prêmio Nobel a Muhammad Yunnus. Neste ponto, política social e econômica se encontram, e a idéia de que as políticas econômicas dos governos de Lula e de FHC são iguais não leva em conta essa interseção, reiterando uma visão restrita e segmentada. Visão, aliás, que não é das elites, pois de outro modo não se entenderia a sua renhida oposição a Lula.
Na falta de conceitos adequados, a tendência é ignorar o que se passa ou tentar reduzir tudo a imagens anteriores. Imagens como a da divisão do país entre uma face supostamente progressista e outra, atrasada, dos “grotões” tidos como dependentes do Estado, quando na verdade essa dependência se traduz num volume de recursos que nem de longe se aproxima daquele de que se beneficiam direta ou indiretamente os setores considerados avançados. Ainda está por se fazer a teoria econômica e social de tudo isso. Mas a eleição que agora termina teve o mérito de não deixar que se continue a ignorar o que se passa, mesmo à custa de muita perplexidade. Isso porque a grande votação de Lula não permite que a consideremos como oriunda dos grotões: é impossível que haja tanto grotão assim. Além do fato de que não foram os grotões que elegeram Maluf e Enéias; e não foi o suposto centro que derrotou Severino Cavalcanti e ACM.
O movimento do primeiro para o segundo turno abalou as crenças sobre a importância dos “formadores de opinião” e a suposta transmissão de informações e de valores partindo do centro para a periferia. O que houve foi uma inversão de mão e uma extensão, através de mecanismos moleculares que pouco conhecemos, daquele que já havia sido, no primeiro turno, o voto preferencial da chamada periferia. Foi ela que mostrou, assim, sua capacidade de influência e indicou a possibilidade de reduzir os riscos da polarização Norte-Sul vaticinada por alguns.
Vamos ver de quanto tempo precisaremos para absorver tudo isso. Absorver, inclusive, que o crescimento econômico precisa ser qualificado e de que não se trata apenas de fazer crescer o bolo. Neste ínterim, esperemos que a capacidade de reconhecer a nova situação prevaleça sobre o ressentimento.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A Culpa é do Fidel


Não fiz nenhuma pesquisa sobre o filme. Ele foi sendo recomendado, por uma, duas, três pessoas ou mais. E eu fui perdendo a oportunidade de vê-lo em uma, duas ou mais salas em que ele esteve em cartaz, no Rio.

Bem, então, finalmente aconteceu. Fui assistí-lo ontem à tarde, numa pequena e linda sala (que possui um arco de pedras no alto) do Paço Imperial, na Praça XV. Fui correndo com medo de perder outra das tantas oportunidades. E valeu! Como valeu a pena!
Um filme que aborda questões históricas e políticas do início da década de 70, tais como o Franquismo, a eleição de Allende no Chile e o fortalecimento do movimento feminista na França. Acontecimentos contados a partir de um microcosmo: a vida de uma pequena família, na França.
Este filme, na verdade, é contado a partir do ponto de vista mais micro possível (digo: até no tamanho), o universo de uma criança que vai crescendo, adquirindo valores e construindo "entendimentos" na sua pequena e rica história de vida.
A menina, personagem central do filme, deveria era ganhar um prêmio de melhor atriz... se não é que já ganhou alguma coisa e eu nem devo estar sabendo. Pois ela dá um banho de interpretação em muito marmanjo por aí. rs
Para mim, nada poderia ter sido mais filosófico do que ver essas transformações históricas e políticas a partir do ponto de vista de um serzinho (muito pensante) que se constitui (e vai se constituindo, ao longo do filme) em meio a complexidade dos fatos e de seus afetos e valores - experiências que geram compreensões e inserções diferenciadas no mundo. E este mundo vai se apresentar repleto de contradições inerentes às culturas e aos contextos histórico e social em que ele/ela vive e participa ao seu modo.
Enfim: "a criança é um sujeito histórico!" Parecia gritar o filme... "E ele ou ela podem possuir uma excelente história à contar."
Um belíssimo trabalho dirigido por Julie Gavras que vale a ver e aplaudir.
Menina MA (mas não tão má. rs)

E para não dizer que não falei de frases...

"Existem tantas coisas na vida mais importantes que o dinheiro.
Mas custam tanto!" (Groucho Marx)



Fonte: Imã de geladeira, da geladeira da minha casa. Menina MA

quinta-feira, 16 de outubro de 2008


Toda paixão é a primeira

Menina F

"Cozinhando palavras com as Meninas Gerais"


Abdico hoje do meu antigo blog "A menina que gostava de mapas" e lanço, em parceria com a Menina MA, o primeiro post do nosso mexidão requentado, o "Meninas Gerais"! (Menina F)

Bem, como não gosto muito de cozinhar ou comer sozinha, recebi com imenso carinho e consideração o convite da amiga Menina F para fazer uma parceria. O meu antigo blog, "Cozinhando palavras", aonde eu só experimentava receitas... vai poder montar sua cozinha aqui, e começar a servir alguns pratos para fora.
(Menina MA)

"Meninas Gerais" era um sonho de blog antigo... que combinou com "Cozinhando Palavras" que combinou com o “A Menina que Gostava de Mapas”. 3 em 1. O "Meninas Gerais..." é o mapa das minas... e se há uma coisa que combina com Minas é a cozinha!
(Menina MA & Menina F)

Obs.: Achei especial encontrar esta imagem acima, que faz parte de uma exposição: "Meninas Descalças". Ela conta um pouco dos sentimentos e emoções que transcendem de todas as mulheres do universo de Telma Quevedo, uma mineira de Belo Horizonte. (A artista plástica é um dos talentos revelados pela consagrada Yara Tupynambá.) Os traços pontilhados, de um estilo muito pessoal, falam ao mesmo tempo das muitas mulheres que habitam o íntimo de uma única mulher - a diversidade da alma feminina e sua delicadeza. (Menina MA)

Fonte: http://www.cultura.mg.gov.br/?task=interna&sec=4&cat=29&con=1416&limitstart=15&all_not=y

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ser adulta e pesquisar crianças


Demora muito, depois de alguns meses (anos?), finalmente você vê o resultado de um trabalho acadêmico, as vezes impresso, as vezes online...Tive a surpresa de encontrar um trabalho, que já foi apresentado em congresso (25a. ABA) em 2006, finalmente em formato digital.


Ser adulta e pesquisar crianças: explorando possibilidades metodológicas na pesquisa antropológica


Aqui está o link:





No artigo, apresento e discuto os vários métodos e técnicas de pesquisa utilizados na confecção de minha tese de doutorado: observação participante, desenhos, redações, filmagem, diários, fotografias, cartas, entrevistas com crianças, programas de rádio...


PS: O artigo tem seus momentos de ingenuidade, de excesso e um tom de comédia, talvez pouco acertado. Mas não quis ofender ninguém e espero que minha vizinha saiba entender isto (mesmo sabendo que ela não vai entender...)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Paulo Freire segundo a Veja

VIÚVA DE PAULO FREIRE ESCREVE CARTA DE REPÚDIO À REVISTA VEJA
por CONCEIÇÃO LEMES

Na edição de 20 de agosto a revista Veja publicou a reportagem O queestão ensinando a ele? De autoria de Monica Weinberg e Camila Pereira,ela foi baseada em pesquisa sobre qualidade do ensino no Brasil. Lápelas tantas há o seguinte trecho:

"Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que emclasse mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiroargentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citaçõespositivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatrampersonagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental,como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinaçãoesquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores ouvidosna pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein,talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diantede uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhoresdocentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvezajude a explicar o fato de eles viverem no passado".

Curiosamente, entre os especialistas consultados está o filósofoRoberto Romano, professor da Unicamp. Ele é o autor de um artigopublicado na Folha, em 1990, cujo título é Ceausescu no Ibirapuera.Sem citar o Paulo Freire, ele fala do Paulo Freire. É uma tática deagredir sem assumir. Na época Paulo, era secretário de Educação daprefeita Luiza Erundina.
Diante disso a viúva de Paulo Freire, Nita, escreveu a seguinte cartade repúdio:

"Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra PauloFreire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dosmaiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minhamais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cadasemana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadasde nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobresua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama suaopção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas ,camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.
Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoarpessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo,que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, maisbonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeiravez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituárioda revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos osoutros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo,apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.
A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmentecom o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética,certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criadapor Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém queé conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.
Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que,certamente para se sentirem e serem parceiras do "filósofo" e aceitaspelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedadebrasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável,elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam emfavor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os maispobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamosconseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.
Superação realizada não só pela política federal de extinção dapobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual estapolítica de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundoque todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela.Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a máapreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dãocontinuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cataàs bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo atohumanista no nefasto período da Ditadura Militar.
Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe médiabrasileira medíocre que tem a Veja como seu "Norte" e "Bíblia", estamatéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homemhumilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez edignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Pauloplantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-loinsignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho,pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que háde mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: opensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país,independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade oureligião.
Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nosdá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram avoz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedadebrasileira está no caminho certo para a construção da autênticademocracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente arevista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!

São Paulo, 11 de setembro de 2008
Ana Maria Araújo Freire".

O Grande Chefe/ Lars von Trier


“O grande chefe” (2006), uma comédia de Lars Von Trier? O que será uma comédia de Lars Von Trier? Acostumada a debulhar-me em lágrimas com filmes como “Dançando no Escuro/ Dancing in the Dark” (2000) e “Ondas do Destino /Breaking the Waves” (1996) e ficar dias matutando sobre filmes como Maderlay (2005) e Dogville (2003), pensei comigo, será que ele sabe fazer comédia?

O filme certamente, não suscita gargalhadas intermitentes, mas com certeza, deixa o espectador grudado na trama com um sorriso maroto iminente.

O que tem de bom nos filmes do Lars Von Trier, na minha (leiga) opinião, é o elemento surpresa. A gente não consegue prever nada. O desenrolar da estória sempre vai por caminhos nunca imaginados. O inusitado começa pelos enredos.

Neste, o dono de uma empresa contrata um ator para fingir ser o presidente numa transação comercial complicada, a venda da companhia. O espectador não sabe por que diabos ele faz aquilo, mas o filme vai se mostrando (e dando) aos poucos. Na verdade, o dono da empresa, buscando ser amado por seus funcionários, cria esta figura hedionda, o grande chefe, que é quem toma todas as decisões antipáticas. Demite os funcionários; faz críticas, corte de salários e benefícios. Mas que, convenientemente, nunca está presente. Na verdade, com a comunicação virtual, não haveria necessidade de um presidente presente (e o filme pode ser visto por este prisma: o mercado de trabalho e as empresas no século XXI), mas a venda da empresa exige a sua assinatura, e é aí que o ator entra em cena.

O potencial comprador da empresa, um finlandês, e sua xenofobia contra os dinamarqueses e seu sentimentalismo, é um dos pontos altos do filme. (Li numa entrevista com o diretor, que os dinamarqueses adoram ser chamados de burros!) Assim, como toda a atuação do ator que faz o ator fazendo “o chefe”. Nota dez.

A única ressalva que eu faço é a uma voz de fundo, que parece ser a do diretor mesmo, que de tempos em tempos aparece para dar uma parada no ritmo da comédia. Eu não gostei ou não entendi, acho que não precisava. Pena eu não entender dinamarquês, imagino ter perdido muito com a tradução.

Outro fator comum aos filmes do enfant terrible do cinema dinamarquês é que os personagens centrais são geralmente bons e inocentes. Pelo menos, é assim à primeira mirada. Ao decorrer do filme eles cometem atrocidades, mas não por que quiseram, mas por que foram envolvidos pelo destino numa trama horrenda de sofrimento. São como os heróis da tragédia grega: não podem fugir das armadilhas do destino. São tomados, possuídos. Ao expectador, fica a perplexidade diante do espetáculo da vida.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Por que eu amo este país




Estou dando aulas de Português para dois irmãos australianos. Um deles, na faixa dos 35 anos de idade, é forte, bonito, de estatura mediana. O outro, de olhos azuis claros, tem menos de 18 anos. É magro. Eles vêm para a escola de moto, porque trazem sempre os capacetes a tiracolo.

A escola, onde eu ensino, não é barata. Ela é direcionada, sobretudo, ao público de empresas. O preço do curso é aproximadamente 150 GPB por mês, com duas aulas de duas horas por semana.

Ontem, na segunda aula, trabalhamos as profissões. Qual não foi a minha surpresa ao perguntar ao garoto magro qual a sua profissão. A resposta que eu ouvi, um tanto incredulamente, foi: peão de obra! Sorry. Can you repeat? Perguntei. Peão de obra. Isso mesmo. O seu irmão mais velho, também. Os meus alunos são trabalhadores da construção civil.

Quando, no nosso país, um peão de obra poderia sonhar em fazer um curso de línguas? Quando, em nosso país, ele poderia dispor de 150 GPB por mês para um passa-tempo cultural? É por isso que eu amo a Inglaterra.

A diferença entre o salário de um engenheiro civil (aliás, temos um engenheiro civil na mesma sala) não é estratosférica. O peão de obra pode sonhar em passar as férias de verão em uma praia paradisíaca no Nordeste do Brasil. Sonhar e realizar. As passagens dos dois irmãos já estão compradas. Em dezembro, eles vão para Natal.

Se há alguma razão para amar este país, sendo eu uma brasileira, ela está aí: aqui o peão de obra pode aprender uma língua estrangeira para não fazer feio no seu próximo destino internacional.






Na foto: A famosa foto dos trabalhadores almoçando sentados em uma viga durante a construção do edifício GE (antigamente chamado de RCA) em 1932, registrada por Charles C. Ebbets.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Obama é liberal!

O candidato democrata à presidência dos EUA cumprimenta a mulher do seu vice com um beijo na boca! O fato vem provar, caso vocês ainda não saibam, que Obama é liberal! Mas a pergunta que não quer calar é: por que ele não beijou o vice também?

http://www.youtube.com/watch?v=QzQg9U4BDrE

Castelo de Leeds / Leeds Castle


No sábado passado passamos um dia maravilhoso no Castelo de Leeds (Leeds Castle) que fica localizado no povoado de Leeds, em Kent, Inglaterra. Pegamos um trem pela manhã (10:18) e só voltamos para casa depois das 21:00. Estavámos em um grupo de sete pessoas: Shipra (indiana), Erlend (norueguês), Rafael (espanhol), Sofia (chilena), Niraj (inglês-indiano), Alexandre (francês-tunisiano) e eu, finalmente, Flávia (brasileira). Viajar de trem pela Inglaterra em grupo é uma boa maneira de economizar dinheiro: 4 pessoas pagam pelo preço de 2 e assim por diante. Da estação de trem Bearstead para o castelo, dividimos o taxi (3.45 GPB ida e volta/ pessoa), o que saiu mais barato que pegar o ônibus (5 GBP ida e volta/ pessoa).

Assim como quase todo mundo, levamos o nosso lanche e fizemos vários pequenos pequiniques durante o dia. Assim economiza-se na alimentação. O passeio pode até parecer caro. O preço do trem é 15.40 GPB partindo de London Bridge, o preço do ônibus 5 GPB e o preço para entrar no castelo e nos jardins é 15.00 GPB. Some alguma bebida quente ou fria, um sorvete ou um cerveja e vai mais 4.00 GPB. Vamos dizer uns 40 GBP sem contar o pequinique. Mas o ingresso do castelo e jardins pode ser reutilizado quantas vezes você quiser durante o prazo de um ano! E se você viajar em grupo, o bilhete de trem pode ser reduzido e, o optando pelo taxi, reduz-se o preço do transporte.

Fazia calor e sol, um dia tipicamente não-inglês e o resultado foi um nariz orgulhosamente vermelho ao chegar em casa. Quando faz sol em Londres as pessoas se sentem obrigadas a sair de casa e “mexer o seu traseiro gordo”, como diziam os saudosos Cacetas em outras épocas! Poucos têm coragem de ficar em casa em um dia de sol: nunca se sabe quando teremos outro!

O castelo, por dentro, é bonito, mas o que se vê, como turista, é como vive uma família de milionários. A visitação do castelo concentra-se nos cômodos onde viveram a família da Lady Baillie. Não deixa de ser interessante, mas não espere enveredar-se pelos caminhos incestuosos de Ana Bolena ou pelo gênio de Henrique VIII.

A visita vale mesmo pelos arredores do castelo. Tem caverna; labirinto; coleção de pássaros exóticos (como tucanos e araras!); cisnes e patos de toda qualidade de cor, jardins; lagos; riachos e riachinhos; horta; vinícula; falconaria; brinquedos de criança; e até um museu de coleira de cachorro (com exemplares do século XVII)! É diversão para a família toda!

O labirinto, por exemplo, eu recomendo para quem gosta de se perder. A experiência vale a pena se você não se sente a ponto de ter um ataque de nervos estando numa situação sem saída, como esta pobre infeliz que vos escreve... Eu quase tive um piti memorável (aliás, tive, mas prefiro não contar). De toda maneira, há um funcionário do castelo sentado (fazendo nada) no meio do labirinto. Eu não sabia deste detalhe. Se você entrar em pânico, sugiro que levante a mão e grite: “HELP”! Não grite, “socorro”, porque provavelmente ele não vai te entender e vai achar que você está se divertindo na companhia dos seus compatriotas. Caso contrário, provavelmente, você vai padecer perdido até que os corvos e os falcões da coleção do castelo te encontrem morto em alguns dias.

HISTÓRIA
A história mais remota do Leeds Castle tem início no ano de 857 com a construção de um solar Real chamado Esledes. Este foi pertença da Casa Real anglo-saxónica durante o reinado de Ethelbert de Wessex.


Construído em 1119 por Robert de Crevecoeur para substituir o anterior solar de Esledes, o castelo tornou-se num palácio Real para Eduardo I de Inglaterra e a sua rainha , Leonor de Castela, em 1278.


Em 1321, o Rei Eduardo II cercou o castelo depois de a sua esposa lhe ter impedido a entrada, tendo usado balistas para forçar os seus defensores a renderem-se. A primeira esposa do Rei Ricardo II, Ana da Boémia, passou o Inverno de 1381 no castelo durante a sua viagem para casar com o rei e, em 1395, o mesmo monarca recebeu ali o cronista francês Jean Froissart, tal como este descreve nas suas Crónicas.


Henrique VIII transformou o castelo para a sua primeira esposa, Catarina de Aragão.


O castelo escapou à destruição durante a Guerra Civil Inglesa porque os seus proprietários, a família Culpeper, estava do lado dos Parlamentaristas.


O último dono privado do castelo foi a Honorável Olive, Lady Baillie, uma filha de Almeric Paget, 1º Barão Queenborough e da sua primeira esposa, Pauline Payne Whitney, uma herdeira americana. Lady Baillie adquiriu o castelo em 1926, tendo redecorado o interior, inicialmente com a colaboração do arquitecto e designer francês Armand-Albert Rateau, o qual também supervisionou alterações exteriores, do mesmo modo que adicionou elementos interiores, tais como a escadaria ao estilo quinhentista em carvalho entalhado, e mais tarde com o decorador Stéphane Boudin, da Casa Jansen (Maison Jansen), uma firma de design de interiores de Paris que viria a ser responsável pelos chamados restauros Kennedy da Casa Branca. Baillie estabeleceu a Fundação do Leeds Castle, tendo o castelo sido aberto ao público em 1976.


Lady Baillie antes de morrer criou e doou o castelo e os jardins para a Fundação Leeds Castle (Leeds Castle Trust). Que mulher desapegada, pensaríam alguns! Que nada: tudo não passou de uma estratégia para não pagar imposto! Isto mesmo: o imposto de herança era de 80% do valor da propriedade. Assim, seria preciso vender o castelo para pagar o imposto. Por isso, a solução para manter, pelo menos, parte da propriedade, foi doar parte substancial para a Fundação, que haveria de cuidar de perpetuar a vida daquela família num castelo transformado em museu por todo o sempre. Boa jogada! Mas parece que o filho mais velho da família não ficou satisfeito com a decisão da mãe. As filhas, coitadas, já não tinha direito a nenhuma parte da fortuna, já que o direito aristocrático concede a herança ao filho varão apenas. (Não posso garantir a veracidade destas informações, já que foram obtidas através de conversas informais com os funcionários do castelo.)

Sobre o Rei Henrique VIII
Um filme chamado The Other Boleyn Girl ("A Outra Bolena") foi lançado no Brasil em 2008. Natalie Portman e Scarlett Johansson interpretarão Ana e Maria Bolena, respectivamente, e Eric Bana interpreta rei Henrique VIII. O filme foi dirigido por Justin Chadwick e o roteiro é de Peter Morgan. Vi o filme em Recife com a minha prima Sara e gostamos muito. É um daqueles filmes que realmente transportam o expectador para outra época histórica, com o auxílio de uma boa dose de traição, sensualidade, poder e muito investimento em figurino e locações.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Viviane Mosé

quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele soprando sulcos?
o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina

sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma

(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)


acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim


e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás

um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos

acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando

do livro Pensamento do Chão, poemas em prosa e verso, em homenagem à Maria Ana, que também fez as pazes com o tempo

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

CéU



CéU canta Malevolência




Ai menino bonito ai


A música fez parte da trilha de "Cidade dos Homens"