domingo, 30 de maio de 2010

Dá vontade de ir também.....

http://www.youtube.com/watch?v=zlfKdbWwruY&feature=player_embedded

domingo, 25 de abril de 2010


O apanhador de desperdícios


Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos,
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.


Manoel de Barros

Memórias Inventadas
As infâncias de Manoel de Barros

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Contra a ditadura da Democracia e do Capitalismo!


Ditadura do pensamento unipolar

Por Frei Betto

Há no mundo uma monopolização crescente do pensamento. Os recentes avanços tecnológicos favorecem a concentração da informação em poucas mãos.

Quando Francis Fukuyama lançou a inconsistente teoria do fim da história, o objetivo era semear a desesperança e consolidar a ideia de que não há futuro, e sim perenização do presente. O capitalismo é o melhor e definitivo sistema econômico; e a democracia, manipulada pelo poder financeiro, sua expressão política.

Derrubado o muro de Berlim, a globalização consiste em impor ao planeta a pax americana e sepultar, assim, as ideologias progressistas e libertárias, extinguindo, da cultura, a consciência histórica, sem a qual não há como construir alternativas.

Felizmente teorias não detêm o avanço histórico. A América Latina é, hoje, o melhor exemplo disso, com a sua primavera democrática e seus governos democrático-populares. Novos atores sociais e processos emancipatórios despontam. Redes planetárias de busca de “outro mundo possível” aparecem.

Esses sinais de esperança reforçam a necessidade de se aprofundar o pensamento crítico, alternativo, e promover a descrença nos dogmas consagradores da desigualdade e da exclusão social e da apropriação privada da riqueza.

Para o pensamento hegemônico, os novos inimigos são o “terrorismo” (leia-se: tudo que se opõe a ele), o narcotráfico, os países que formam o “eixo do mal”, e todos que criticam o sistema de dominação múltipla do capitalismo transnacional e neoliberal.

O polo hegemônico desse pensamento único são os EUA, respaldados pelo consenso da União Europeia e do Japão. E sobretudo as empresas transnacionais. Em nome da defesa da democracia (entenda-se: do modelo fundado na desigualdade e na exclusão), procura-se evitar a proliferação de armas atômicas ou de destruição em massa… exceto nos países que, na ótica de Washington, integram o “eixo do bem”.

Quem melhor expressou a nova doutrina político-militar foi Zbigniew Brzezinski, em 1998, quando denunciou que o imperativo dessa estratégia geopolítica consiste em manter os vassalos dependentes no que diz respeito à segurança, e evitar que os “bárbaros” se articule m, como agora ocorre na América Latina e no Caribe, com a proposta de fundação, no próximo ano, de um organismo semelhante à União Europeia, capaz de congregar os países do continente sem a presença e ingerência dos EUA e do Canadá.

Hoje, o que preocupa a CIA e o Pentágono não é a confrontação leste-oeste, e sim a norte-sul entre os países ricos e pobres. Há um processo sistemático de pasteurização da cultura, travestida de entretenimento centrado no consumismo, de hegemonização do pensamento, por meio da disseminação midiática de paradigmas comuns e do consumo padronizado, de modo a negar o pluriculturalismo, o direito à autonomia dos povos originários, a diversidade religiosa, os movimentos sociais emancipatórios, a cultura como processo crítico de leitura e transformação da realidade. Como diria Paulo Freire, cada vez mais a cabeça dos oprimidos pensa e enxerga pelo ponto de vista dos opressores.

Frei Betto é escritor, autor de Calendário do Poder (Rocco), entre outros livros

quinta-feira, 1 de abril de 2010

UFPB também chegando lá!


UFPB adota sistema de cotas
As vagas são para estudantes de escolas públicas, negros, índios e portadores de deficiência



O Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) da UFPB decidiu, em reunião realizada nesta terça-feira, 30, reservar 25% das vagas, já a partir do próximo Processo Seletivo Seriado para estudantes que cursaram todo o ensino médio e pelo menos três series do ensino fundamental em escolas públicas. A decisão foi aprovada por 20 votos favoráves, dois votos contrários e três abstenções.

No Consepe, coube à professora Maria Creusa, do Centro de Educação, emitir parecer sobre a proposta encaminhada pela UFPB por meio da Pró-reitoria de Graduação.

O Conselho decidiu pela reserva de vagas para os estudantes que cursaram todo o ensino médio e pelo menos três séries do ensino fundamental em escolas públicas, obedecendo a seguinte escala: 25% das vagas de todos os cursos para 2011; 30% das vagas de todos os cursos para 2012; 35% das vagas de todos os cursos para 2013; 40% das vagas de todos os cursos em 2014.


As cotas têm primeiro, recorte social e, segundo, recorte étnico-racial, de modo que cada segmento - populações negra e indígena - terá o percentual correspondente a sua representação no Estado da Paraíba, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Aos portadores de deficiência será reservada a cota de 5%.

REPERCUSSÃO - A iniciativa da UFPB foi aplaudida e elogiada por diversos representantes da sociedade civil. Para a professora Solange Rocha, da Organização das Mulheres Negras da Paraíba (Bamidelê), a decisão da UFPB representa uma grande mudança na educação. "Os jovens negros e indígenas das camadas populares agora podem vislumbrar a possibilidade de ingressar na universidade, de modo que todos os segmentos sociais estejam representados na instituição”.

O representante do Movimento do Espírito Lilás (MEL), Felipe dos Santos, destacou que a UFPB dá um passo adiante no reconhecimento das desigualdades étnicas, raciais e sociais. “Quando a instituição aprova uma prposta como essa está democratizando o acesso ao ensino superior para negros e negras e quilombolas, ao mesmo tempo em que atende a pauta de reivindicação do movimento negro”.

O representante da União Nacional do Estudantes (UNE) na Paraíba, Rildian Pires Filho, disse que a aprovação do sistema de cotas é um passo histórico. “Com essa aprovação a UFPB garante o acesso de estudantes oriundos de parcela da população historicamente excluídas”.

O reitor da UFPB, Rômulo Polari, ressaltou que a questão das cotas vem sendo discutida e debatida com a sociedade e com a comunidade universitária há pelo menos quatro anos. Segundo Polari, a decisão chegou na hora certa. "A aprovação da política de cotas na UFPB se baseou em iniciativas de outras instituições de ensino superior. Isso fez com que a decisão fosse tomada de forma mais madura e consciente".

Participaram da reunião para aprovação de cotas representantes das entidades: Organização das Mulheres Negras da Paraíba (Bamidelê), o movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bisexuais e Transexuais), Diretório Central dos Estudantes (DCE), União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), Associação dos Estudantes da Paraíba (AESP), Juventude Negra, Núcleo de Estudantes Negras da UFPB, Associação dos Deficientes (ASDEF), Associação Nacional dos Estudantes Livres (ANEL) e o representante do Sindicato dos Trabalhadores em Ensino Superior da Paraíba (Sintespb).


Fonte Agência de Notícias UFPB
http://www.agencia.ufpb.br/vernoticias.php?pk_noticia=11640

quinta-feira, 18 de março de 2010

sexta-feira, 5 de março de 2010

AULA INAUGURAL


A área de Antropologia do Departamento de Ciências Sociais tem o prazer de convidá-lo para a

AULA INAUGURAL

do Curso de Ciências Sociais da UFPB





"Saudade: uma incursão em antropologia visual".

Bela Feldman-Bianco

Com a exibição do Filme “Saudade”.


Dia 15 de Março às 19:30H no Auditório da Reitoria


Bela Feldman-Bianco é professora da UNICAMP é autora dos livros Antropologia das Sociedades Contemporâneas: Métodos (1987), Desafios da Imagem: Iconografia, fotografia e vídeo nas ciências sociais (2000), Colonialism as a Continuing Project (2001), dentre inúmeros outros livros e artigos.
Suas pesquisas focalizam questões relacionadas à cultura e poder, com ênfase em identidades, migrações transnacionais, colonialismo/ pós-colonialismo e globalização em perspectiva comparativa.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Uma Apreciação do Livro Leite Derramado (2009) de Chico Buarque



O livro Leite Derramado de Chico Buarque é uma obra de mestre. Ganha em muito de Budapeste, que tem a prosa algo pegada, difícil, lenta. Ao contrário, Leite Derramado é abundante, flui nutritivo como o leite que corria generoso dos seios brancos de Matilde. Ah, Matilde, a mulatinha morta aos 17 anos não se sabe exatamente de quê...
Não apenas Matilde fica morando na nossa lembrança, - (como é dito na orelha do livro)- , como uma recordação de coisa não vivida, como nos enamoramos do próprio velho Eulálio. Que importa se ele seja no fundo um aristocrata, racista, segregacionista nada afeito aos ideias republicanos e pouco gentil com as classes populares. Pouco importa, o velho toma nosso coração – talvez, a maneira de Chico – e não importa que asneiras diga!
Li o livro com dó. Li os primeiros capítulos e tive que relê-los. Li cada palavra com se sorvesse um vinho raro, cujo sabor queremos capturar para sempre na boca. Guardei o livro para um momento especial em que eu pudesse ser só dele e ele só meu. Mas não queria lê-lo todo de uma vez, relutava, era bom demais, tive dó de continuar. Acho que isso nunca tinha me acontecido. Normalmente devoro os livros com a fome de Eulálio quando viu Matilde pela primeira vez na missa de seu pai morto. Mas com este livro algo diferente aconteceu comigo. Fui hipnotizada, talvez, apaixonei-me realmente por Eulálio. Talvez temesse sua morte. E por falar nela, as últimas páginas há surpresa – ao narrar a morte de seu tataravó é que morre Eulálio, o narrador.
O livro é leve - pesa pouco- , e breve – apesar de tanta vida. Leva o leitor a risada. Taí talvez sua genialidade: é complexo, profundo sem ser pedante, sem errar no tom. É através da narrações desordenadas no velho que compomos o cenário, sem nexo, juntando os pedaços, confundindo as estações e, ás vezes, fazendo algum sentido. É a própria natureza da vida do homem – um tanto sem sentido, a se perder nas curvas dos rios dos acontecimentos, tantas vezes a se desperdiçar como o leite que Matilde negava a menina e escorria pesado pela pia. A confusão do velho é não menos companheira da vida que dos velhos. É a vida mesma que não pode ser vivida senão como foi narrada por Eulálio: como uma (re)invenção constante. E salve Cecília Meireles!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Vídeo nas Aldeias

Kit "Cineastas Indígenas: um outro olhar" para escolas

O Vídeo nas Aldeias está cadastrando escolas que queiram receber a coleção de DVDs Cineastas Indígenas: um outro olhar, para distribuição gratuita nas escolas de ensino médio. A coleção oferece uma visão única da realidade indígena brasileira: o ponto de vista dos próprios índios.
Com patrocínio do Programa Petrobrás Cultural, o Kit consiste num box com cinco DVDs com filmes dos povos Kuikuro, Panará, Huni Kui, Xavante e Ashaninka, e um "Guia para professores e alunos", com informações sobre cada um dos povos, fontes para pesquisa complementar e temas para discussão em sala de aula.

Cadastre a sua escola:
www.videonasaldeias.org.br/2009/contato_escolas.php
Faça o download do
Guia para professores e alunos:
www.videonasaldeias.org.br/downloads/vna_guia_prof.pdf

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010




Comunicado de Imprensa
04 fevereiro, 2010

Programa de Jovens Profissionais 2010 do BID recebe inscrições Mais Informações
Carolina Goicochea
Coordenadora do Programa
carolinago@iadb.org

Programa de Jovens Profissionais
Contato de Imprensa

Janaina Goulart
(61) 3317-4285
janainag@iadb.org



Iniciativa busca profissionais em áreas do desenvolvimento. Candidatura pode ser realizada até 01 de abril

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) abre inscrições para a edição 2010 do Programa de Jovens Profissionais e o Programa Diversidade de Jovens Profissionais, para povos Afro-descendentes e Indígenas.

A iniciativa, voltada para universitários e acadêmicos, é considerada um ponto de partida para a carreira profissional no BID.

O Banco procura candidatos com experiência em uma ou mais das seguintes áreas: Meio Ambiente e Recursos Naturais; Desenvolvimento Econômico; Desenvolvimento Social, Infraestrutura; Project Finance; e Setor Privado. As inscrições seguem até 01 de abril de 2010.

Os candidatos selecionados vão trabalhar por um período de até dois anos na Sede do Banco ou nas Representações; e existe a possibilidade de o jovem profissional fazer parte do quadro de funcionários do BID no futuro.

Requisitos

Os requisitos para participar do programa são os seguintes:

O candidato deve ser cidadão de um dos países membros do Banco;
Ter até 32 anos de idade;
Ser fluente em Inglês e Espanhol, com conhecimento de uma terceira língua oficial do Banco (Francês ou Português);
Ter obtido o título de Mestre, Licenciatura ou grau equivalente em uma universidade reconhecida pelo país;
Ter um ou mais anos de experiência profissional em empresas relacionadas com o Banco


Processo de Seleção

Os candidatos selecionados serão convocados para entrevistas em Washington, onde funciona a Sede do Banco. O objetivo da entrevista é identificar características como flexibilidade e capacidade de trabalho; habilidades analíticas evidenciadas pelo sucesso acadêmico; habilidade de trabalhar em equipe; comunicação; e vontade e disponibilidade para servir em missões de campo na América Latina e Caribe.

As regras do programa e o formulário de inscrição estão disponíveis no site do Banco. Para acessar a página oficial do Programa de Jovens Profissionais, clique aqui (em inglês).

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Vale Paraíba!


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

"Sobre o perigo dos livros" Rubem Alves


Imperdível esta crônica de Rubem Alves. (Especialmente para acadêmicos ou adeptos de qualquer tipo de intelectualismo.)
Comentem!!!
http://rubemalves.wordpress.com/2009/01/03/sobre-os-perigos-da-leitura/

Obs.: A imagem retirei da net e não tinha a autoria identificada.

compartilhando leituras....



"O cidadão, no Brasil, além de ser um personagem tardio, quando começa a se expandir, de modo lento e tortuo, encontra diante de si um ambiente hostil que tem a forte presença dos ideólogos do mercado, vaticinando sua condição de personagem fora de moda. A cidadania social é considerada por muitos coisa do passado e, mais do que isto, uma instituição inviável economicamente, pois onerosa. Cidadania não combina com modernidade e assim por diante. O mundo privado e seus imperativos sistêmicos impelem a pensar e agir no sentido da mercantilização completa da grande conquista da civilização ocidental que são os direitos sociais".


REGO, Walquiria Leão. Lua Nova, São Paulo, n. 73, 2008 . Disponível em . acessos em 03 fev. 2010. doi: 10.1590/S0102-64452008000100007.

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452008000100007&lng=pt&nrm=iso

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Vicente Maiolino, com todo prazer.



Há algum tempo não posto aqui, mas não poderia deixar de registrar este acontecimento que me atingiu, atingiu mais ainda outras pessoas e quiça uma boa parte de gente que indiretamente foi agraciada com sua arte, criatividade e talento.
Vicente Maiolino foi diretor de teatro, dramaturgo, encenador, figurinista, ator... Em suma, fazia teatro com as mãos, os pés, a cabeça... com seu corpo e toda sua alma.
Quem o conhecia via nele um personagem... Ele vivia e respirava como que dia e noite num palco. A vida em sua máxima intensidade.
Convivi com ele um bom tempo... pouco tempo... O tempo suficiente para saber que foi uma parte indispensável de tempo na minha experimentação do mundo. Uma mordida saborosa.

Como saborear direito a vida sem ter nela pelo menos uma boa pitada da arte???

Alguém tirou, porém, este mestre cuca daqui. Imagino que um ser humano que não teve quem lhe desse o bom alimento. A massa poderosa que fermenta, recria a vida e a reinventa mesmo quando falta a ela boa parte dos ingredientes.

12 furos; seis tiros que o atravessaram lado a lado. Acertaram seu corpo... imortalizaram sua alma.
Vicente Maiolino cumpriu, então, seu derradeiro papel. Mostrou como não se tem como... matar o personagem, como não se tem como... matar a sua arte; o bom alimento.
E recebe, então, seu merecido aplauso...
Ao contrário dos descrentes, creio que sua alma se corporiefica em sua tamanha importância e necessidade.
A morte mais violenta, mais fez sua alma ganhar corpo. Trouxe sua vida à tona, junto à dor, à incompreensão, para o cerne de um espetáculo.
Maiolino interpreta agora o seu mais importante papel.
E continuará em cartaz com seu público fiel a atrair platéias sedentas pela arte que a vida reinventa.

Um brinde a sua insurreição!

Maria

Obs.: Esta foto é da peça "A idade do sonho", em que dirigiu, atuou e recebeu muitos prêmios.
Posted by Picasa

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Contra o barulho

Contra o barulho
Fim do barulho // Campanha lançada ontem pelo MPPE prevê pagamento de até R$ 2 mil pelo Disque-Denúncia para quem denunciar o problema

Por Marcionila Teixeira

Campanha contra poluição sonora é lançada no Recife

Todo final de semana, o funcionário público Luiz Augusto Andrade, 34 anos, pega a mulher e o filho de 4 anos e se muda para a casa de algum parente. A mudança forçada acontece por um motivo simples e ao mesmo tempo inusitado: Luiz e a família precisam dormir e não conseguem por conta do som alto registrado no bairro onde moram, no Arruda, no Recife.
Assim como ele, milhares de pessoas vivem o mesmo drama, que muitas vezes é enfrentado de forma violenta. Ontem, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) anunciou mais ações para combater a poluição sonora no estado e todos os crimes ligados a ela. Entre as novidades estão o lançamento da campanha Som sim, barulho não, a capacitação de policiais para lidar com a situação e a recompensa de até R$ 2 mil paga pelo Disque-Denúncia para quem contribuir com a resolução de um problema que afete toda uma comunidade. Além do incômodo à tranquilidade, o MPPE quer reforçar a ideia de que a poluição sonora não é apenas um incômodo aos ouvidos, mas também encobre outros crimes. "Um ambiente onde há carros com som alto, por exemplo, pode atrair os jovens para o uso de drogas lícitas e ilícitas ou para a exploração sexual de crianças e adolescentes", comentou o promotor André Silvani, do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Meio Ambiente (Caop). Outra preocupação do MPPE é com a possibilidade de ocorrência de homicídios decorrentes de desentendimentos por conta de barulho, como já aconteceu no estado. O funcionário público Luiz Andrade disse que, logo que foi morar no bairro, tentou resolver o barulho de som alto dos carros ao longo da madrugada conversando com os donos dos veículos ou ligando para a polícia. "Hoje em dia não faço mais isso. São muitos carros. Também tenho medo da reação dos motoristas. Além disso, depois que a polícia sai, eles aumentam o som de novo. Prefiro sair de casa", afirmou. A campanha será veiculada na mídia gratuitamente e por tempo indeterminado. São três VTs para televisão, dois jingles etrês comerciais para rádio, quatro anúncios para jornal e cinco para outdoors. Todas as peças fazem referência ao site www.somsimbarulhonao.com.br. O grupo Diários Associados em Pernambuco, do qual também faz parte o Diario, confirmou participação na iniciativa. Capacitação - Para o promotor André Silvani, a capacitação dos policiais é um dos passos mais importantes da luta contra a poluição sonora. "Esse é um crime como outro qualquer e o policial não precisa pedir para baixar o som ou ter um mandado para entrar na casa de alguém que está abusando do barulho. Ele pede para alguém parar de traficar drogas? Ainda existe essa cultura de que o barulho não é algo importante para ser combatido diante de outros crimes, mas é preciso priorizar esse tipo atuação também", destacou. O secretário executivo de Defesa Social, Cláudio Lima, disse que os batalhões da Polícia Militar de 26 áreas do estado, além das companhias, estão orientados a cumprir metas no combate à poluição sonora. "Apenas duas áreas não cumpriram as metas no ano passado", contabilizou. A Secretaria de Defesa Social promove, desde 2008, a Operação sossego. No entanto, apenas Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes participam da ação. Dados repassados ao MPPE apontam que, em Jaboatão, houve redução de 38% no número de crimes após dois meses do início da operação. Outra arma para combater o mal será a reedição da cartilha Poluição sonora – O silêncio e o barulho, lançada em novembro pelo MPPE. Mais 10 mil exemplares com orientações sobre o tema serão distribuídos logo que o Ministério Público consiga firmar parcerias com setores da indústria local para a reimpressão. Além disso, a entidade também preparou um vídeo educativo para ser usado em seminários e outras apresentações sobre o tema. FONTE: DIÁRIO DE PERNAMBUCO

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Fazendo Gênero 9


Inscrições abertas para apresentação de trabalho no congresso Fazendo Gênero 9 em agosto de 2010 em Floripa, UFSC.

Atenção especial ao nosso Seminário Temático:

18. Diversidade e Gênero no Universo Infanto-Juvenil
Coordenador@s: ALCILEIDE CABRAL DO NASCIMENTO (UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO), FLÁVIA FERREIRA PIRES (UFPB)


SITE:

domingo, 10 de janeiro de 2010

Cariri Paraibano





























quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Catingueira/ PB






Uma prévia das fotos que produzimos em dezembro de 2009 em trabalho de campo na cidade de Catingueira/ PB para a pesquisa "A Casa Sertaneja e o Programa Bolsa-Família".













Na última foto estão um nativo e 4 alunos de Ciências Sociais da UFPB que fizeram parte da equipe de pesquisa!

domingo, 3 de janeiro de 2010

Comer, beber, viver...


No ano retrasado, em 2008, li aquele livro best seller, meio auto-ajuda (bem diferente dos que costumo gostar ou ler...) que fez um sucesso estrondoso, com uma americana que, para romper com uma vida e a depressão causada por grandes dificuldades vivenciadas, sai em busca de prazeres e aprendizados, em um ano sabático de viagens.


"Comer, rezar e amar"... quem não leu deve ter ouvido falar. O livro vendeu milhões de exemplares e como tive a recomendação expressa de duas leitoras (amigas), fui folhear suas páginas num café de uma livraria. Acabei comprando o livro através de um site, num precinho camarada e confesso que gostei. Não tanto pela escrita e não é mesmo uma obra literária com uma narrativa grandiosa, mas pela sinceridade da experiência compartilhada.


Este ano, bem perto do final do ano, lembrei-me do livro e de alguns momentos contados pela autora. Isto aconteceu mais precisamente quando estava num avião, indo para minha terra natal e lembrava as possibilidades que podem surgir quando nos abrimos à outras experiências, quando nos damos direito à novas "viagens" transformadoras.


Chegando ao aeroporto de destino... antes de embarcar no ônibus para o centro da cidade, meus olhos parecem terem sido guiados para um pequeno letreiro de um café onde estava escrito "Comer, beber, viver".

Bonita coincidência! Os tantos verbos infinitivos... que sinalizavam experiências tão humanas quanto potencialmente transformadoras.


Que belos verbos possam ser conjugados este ano que se inicia, trazendo a sorte de outras tantas possibilidades de vida!

Feliz 2010!!!
Obs.: Esta linda gravura eu retirei na internet nesta página http://fineartsportugal.com/shop/images/pint_trigo_penultima_ceia.jpg
Parece que o artista chama-se Trigueiro e a tela é a "Penúltima ceia".

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal!



Meu colega da UFPB, Adriano de Léon, fotografou a obra de arte acima reproduzida no Shopping Sul, no bairro dos Bancários na capital da Paraíba, João Pessoa.

Trata-se da "Fuga de Jesus para o Egito" - passagem remarcável na odisséia bíblica em que Maria e José fogem com o menino Jesus para que ele não seja morto pela ira do rei Herodes, que havia mandado matar todas as crianças menores de 2 anos de idade.

Reparem que a paisagem não é nada parecida com a de Israel, antigamente Galiléia.... Há picos nevados, pinheirinhos de natal... o que produz uma sensação de fora do lugar.

Mas o simplório pode ser singelo...

Simplicidade, pureza de coração é assim que quero passar este natal, atenta as coisas simples, sem olhar as contradições do mundo, focando no essencial: a fuga do mal. O resto é paisagem.











domingo, 20 de dezembro de 2009

Conselhos para um 2010




  • Sobre as suas metas para o Ano Novo



Anote os seus querê e pendure num lugar que você enxergue todo dia.

Mesmo que seus objetivos estejam lá prá baixa da égua, vale à pena correr atrás. Não se agonie e nem esmoreça. Peleje.

Se vire e mêta o pé na carreira, pois pra gente conseguir o que quer, tem é Zé.

Lembre que pra ficar estribado é preciso trabalhar. Não fique só frescando.


  • Sobre o amor

Não fique enrolando e arrudiando prá chegar junto de quem você gosta. Tome rumo, avie, se avexeü Dê um desconto prá peste daquela cabrita que só bate fofo com você. Aperreia ela. Vai que dá certo e nasce um bruguelim réi amarelo.

Você é um corralinda. Se você ainda não tem ninguém, não pegue qualquer marmota. Escolha uma corralinda igual a você.

Não bula no que tá quieto. Num seja avexado, pois de tanto coisar com uma, coisar com outra, você acaba mesmo é com um chapéu de touro.ü As cabritas num devem se agoniar. O certo é pastorar até encontrar alguém pai d'égua. Num devem se atracar com um cabra peba, sem futuro, malamanhado e fulerage.

O segredo é pelejar e não desistir nunca. Num peça pinico e deixe quem quiser mangar. Um dia vai aparecer um machoréi bem massa.



  • Sobre o trabalho

Trabalhe, num se mêta a besta. Quem num dá um prego numa barra de sabão num tem vez não.

Se você vive fumando numa quenga, puto nas calças e não agüenta mais aquele seu chefe réi fulerage, tenha calma, não adianta se ispritar.Se ele não lhe notou até agora é porque num tá nem aí se você rala o bucho no trabalho. Procure algo melhor e cape o gato assim que puder.

Se a lida não está como você quer, num bote boneco, num se aperreie e nem fique de lundu. Saia com aquele magote de amigos pra tomar uns merol.Tome umas meiotas e conte uma ruma de piadas que tudo melhora.



  • Sobre a sua vidinha

Você já é um cagado só por estar vivo. Pense nisso e agradeça a Deus.

Cuide bem dos bruguelos e da mulher. Dê sempre mais que o sustento, pois eles lhe dão o aconchego no fim da lida.

Não fique resmungando e batendo no quengo por besteira. Seje macho e pense positivo.

Num se avexe, num se aperreie e nem se agonie. Num é nas carreira que se esfola um bode.



  • Arrumação motivacional

No forró da entrada do ano, coma aquela gororoba até encher o bucho. É prá dar sorte, mas cuidado, senão dá gastura.

Tome um burrim e tire o gosto com passarinha ou panelada que é prá num perder a mania.

Prá começar o ano dicunforça: Reflita sobre as besteiras do ano passado e rebole no mato os maus pensamentos.

Murche as orêia, respire fundo e grite bem alto:


Agora é só levantar a cabeça e desimbestar no rumo da venta
que vai dar tudo certo em 2010.

Peeeeennnnse num ano que vai ser muito bom.
Respeite como vai ser pai d’égua esse 2010.

sábado, 19 de dezembro de 2009

"Para Sara..."


Este post é uma forma de agradecimento a uma das leitoras do blog.

Ela nem imagina, mas seu "puxão de orelha" falando sobre a falta que sentia de novos escritos no blog, trouxe-lhe um novo fôlego, um suspiro, uma sacudida...

E o importante é que ela disse das sensações dela. (Ela se expressou com palavras como "tão, tão tranquilo..." o sentimento que trazia para ela as leituras. E disse também que, por vezes, ficava com aquilo que lia na cabeça durante a semana.)

Tão, tão bom ouvir isto... (plagiando a nossa querida leitora pernambucana.)

Isto tudo serve para dizer de algo tão importante ou fundamental para que qualquer coisa aconteça, para que qualquer palavra tessa... O outro, a outra... que está bem ali do outro lado, mesmo que imperceptível.

Tantos e tantas reflexões, textos e elocubrações sobre a "alteridade" em nossas vidas, que nos dá outros significados, olhares e tantas "contrapalavras", como dizia um filósofo russo da campo da linguagem, Bakhtin, que gosto tanto de estudar.

Bem, ele diz que o outro é capaz de nos dar "acabamento". O outro ou a outra (a Sara, por exemplo, no caso) foi quem nos deu acabamento... disse-nos do que causa a ela nossas palavras... nossos escritos. E a partir daí sabemos que vale mesmo a pena (da caneta rs) . Ela nos dá "validade", validade às nossas enunciações, termo caro a este filósofo russo de que falei. É uma dádiva porque ela acaba nos dando oportunidade para expandirmos ou modificarmos algo da nossa "autoconsciência".

Ela nos dá esse acabamento tão necessário a nossa "auto-estima"- noção posta em dúvida por um psicanalista de quem tb gosto muito, Contardo Calligaris - que para ele (e pra mim tb) não parece ser tão "auto" assim; de repente, é mais "alter"- estima. rs

Obrigada, Sara!

Veja como o(a) leitor(a), o(a) apreciador(a), o(a) ouvinte pode ser parte tão integrante da arte, como a própria arte ou o seu criador; é parte imprescindível desta "arquitetônica" que constitui qualquer criação estética, teórica, etc.

Abraço grande
Obs.: Esta imagem de aquarela linda de uma artista mineira já foi postada no blog em outubro do ano passado e suas referências estão no post "Cozinhando com as Meninas Gerais..." out/2008.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Antropologia Cômica!






Royal Anthropological Institute (UK) lançou a International Anthropology Cartoon Contest em julho de 2009. Parece que a disputa foi um sucesso, com a participação de vários países, inclusive o nosso. A ideia era abordar temas antropológicos de uma maneira cômica e diferente.








Algumas das charges podem ser vistas em http://www.flickr.com/photos/raieducation








Vou deixar aqui a que levou o segundo lugar:
















terça-feira, 8 de dezembro de 2009

"(Não) atire no dramaturgo"!


Há uns três dias atrás, acho que no dia 5 de dezembro, vi no jornal a notícia de que um dramaturgo em São Paulo, havia sido alvejado por tiros dentro de um bar durante a madrugada, enquanto comemorava um espetáculo escrito e dirigido por ele, "Brutal".

Já falei aqui sobre coincidências e não vou me ater a elas no caso, porque considero até de mal gosto, no momento.

Mas que é "Brutal" um crime como este, assim como outros vários atos de violência quase gratuita que ouvimos, lemos ou assistimos e que enchem as páginas dos jornais e sites de notícias do nosso país diariamente... não preciso mesmo comentar.

Como gosto e me identifico cada vez mais com o mundo da literatura, do teatro, do cinema e de artes afins, meu interesse se desviou do crime violento e passeou, querendo conhecer melhor este homem, Mário Bortolotto.
Dado em "estado grave", ele poderia deixar de fazer suas artistagens antes mesmo de eu ter o prazer de saber da sua existência. Isto tudo devido a um tiro, ou mais tiros, cravejados em seu peito em uma das tantas boas noites em que esteve bebendo, cantando e curtindo os amigos; o que parecia ser parte de sua filosofia de vida e inspiração para sua arte.

Descobri, então, seu blog pelos órgãos de notícia e quando li o título... (Sinto contrariá-lo, Mário, mesmo convalescente e indisponível no momento para qualquer discordância ou debate com uma leitora novata e meio chata... ) Decidi incluir nele uma palavra, sem sequer pedir sua permissão, pelo menos no meu blog. Trata-se de um "não"... bem no início do título, que só traria mais tranquilidade ao meu coração, quiçá das pessoas que já te conheciam e admiravam.

Sabe essas coincidências atrozes, das quais prometi não falar? E não preciso... só necessito reproduzir aqui o nome do blog e de um livro com o mesmo nome, escrito pelo danado desse Bartolotto: "Atire no dramaturgo" ( http://atirenodramaturgo.zip.net/ )
E não é que dá vontade mesmo de apagar ou mudar algo?! "Palavras minhas, palavras suas", como já dizia o ditado.
A principal e mais feliz descoberta desta incursão, porém, foi uma empatia genuína com seu jeito maroto, intenso e inadaptado de escrever, pensar, viver... Com certeza, despertou minha vontade de ler seus escritos, ouvir as músicas que tanto recomenda e ver quem sabe alguma de suas peças, com certeza. (De cá, já rezo por sua pronta recuperação).
Queria deixar só uma palhinha aqui para vocês, de um trecho em que em meio a uma reclamação, ele dá uma "receita" de como adaptar suas histórias para seus futuros encenadores.
"Aconselho a quem quiser se aventurar a encenar algum outro texto meu (...) a ler muito gibí, ver muito filme alternativo (...) e inclusive, muito filme "B". Esqueçam David Lynch, Almodovar, Lars Von Trier, etc. Eu não tenho nada a ver com isto. Tentem ler os caras que realmente mudaram a minha vida (Bukowski, Spillane, Henry Miller, ...). Também tem que sair pra rua, beber até de manhã com alguns amigos engraçados e apaixonados."
(Estou com problemas no copiar e colar, rs . Vou adicionar o texto depois. Mas, podem ir ao blog dele no post do dia 29/11)
Ah, ele tem um conjunto bacana de rock e blues com amigos, do qual ele é o vocalista e compõem músicas, chama-se "Saco de ratos". Eles se apresentam em galerias alternativas em São Paulo.
Para finalizar, saúde, Mário Bartolotto! E prazer em conhecê-lo mesmo num momento assim, tão delicado. (Mas, você não me pareceu ser mesmo muito convencional.)
Obs.: A foto postada foi retirada do blog do dramaturgo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Acadêmicos amestrados Por Idelber Avelar

Acadêmicos amestrados

Por Idelber Avelar [Terça-Feira, 1 de Dezembro de 2009 às 15:31hs]

Se um marciano aterrissasse hoje no Brasil e se informasse pela Rede Globo e
pelos três jornalões, seria difícil que nosso extra-terrestre escapasse da
conclusão de que o maior filósofo brasileiro se chama Roberto Romano; que
nosso grande cientista político é Bolívar Lamounier; que Marco Antonio Villa
é o cume da historiografia nacional; que nossa maior antropóloga é Yvonne
Maggie, e que o maior especialista em relações raciais é Demétrio Magnoli.
Trata-se de outro monólogo que a mídia nos impõe com graus inauditos de
desfaçatez: a mitologia do especialista convocado para validar as posições
da própria mídia. Curiosamente, são sempre os mesmos.

Se você for acadêmico e quiser espaço na mídia brasileira, o processo é
simples. Basta lançar-se numa cruzada contra as cotas raciais, escrever
platitudes demonstrando que o racismo no Brasil não existe, construir
sofismas que concluam que a política externa do Itamaraty é um desastre,
armar gráficos pseudocientíficos provando que o Bolsa Família inibe a
geração de empregos. Estará garantido o espaço, ainda que, como acadêmico, o
seu histórico na disciplina seja bastante modesto.

Mesmo pessoas bem informadas pensaram, durante os anos 90, que o elogio ao
neoliberalismo, à contenção do gasto público e à sanha privatizadora era uma
unanimidade entre os economistas. Na economia, ao contrário das outras
disciplinas, a mídia possuía um leque mais amplo de especialistas para
avalizar sua ideologia. A força da voz dos especialistas foi considerável e
criou um efeito de manada. Eles falavam em nome da racionalidade, da verdade
científica, da inexorável matemática. A verdade, evidentemente, é que essa
unanimidade jamais existiu. De Maria da Conceição Tavares a Joseph Stiglitz,
uma série de economistas com obra reconhecida no mundo apontou o beco sem
saída das políticas de liquidação do patrimônio público. Chris Harman,
economista britânico de formação marxista, previu o atual colapso do mercado
financeiro na época em que os especialistas da mídia repetiam a mesma
fórmula neoliberal e pontificavam sobre a "morte de Marx". Foi
ridicularizado como dinossauro e até hoje não ouviu qualquer pedido de
desculpas dos papagaios da cantilena do FMI.

Há uma razão pela qual não uso aspas na palavra especialistas ou nos
títulos dos acadêmicos amestrados da mídia. Villa é historiador mesmo,
Maggie é antropóloga de verdade, o título de filósofo de Roberto Romano foi
conquistado com méritos. Não acho válido usar com eles a desqualificação que
eles usam com os demais. No entanto, o fato indiscutível é que eles não são,
nem de longe, os cumes das suas respectivas disciplinas no Brasil. Sua
visibilidade foi conquistada a partir da própria mídia. Não é um reflexo de
reconhecimento conquistado antes na universidade, a partir do qual os meios
de comunicação os teriam buscado para opinar como autoridades. É um uso
desonesto, feito pela mídia, da autoridade do diploma, convocado para
validar uma opinião definida a priori. É lamentável que um acadêmico, cujo
primeiro compromisso deveria ser com a busca da verdade, se preste a esse
jogo. O prêmio é a visibilidade que a mídia pode emprestar - cada vez menor,
diga-se de passagem. O preço é altíssimo: a perda da credibilidade.

O Brasil possui filósofos reconhecidos mundialmente, mas Roberto Romano não
é um deles. Visite, em qualquer país, um colóquio sobre a obra de Espinosa,
pensador singular do século XVII. É impensável que alguém ali não conheça
Marilena Chauí, saudada nos quatro cantos do planeta pelo seu A Nervura do
Real, obra de 941 páginas, acompanhada de outras 240 páginas de notas, que
revoluciona a compreensão de Espinosa como filósofo da potência e da
liberdade. Uma vez, num congresso, apresentei a um filósofo holandês uma
seleção das coisas ditas sobre Marilena na mídia brasileira, especialmente
na revista Veja. Tive que mostrar arquivos pdf para que o colega não me
acusasse de mentiroso. Ele não conseguia entender como uma especialista
desse quilate, admirada em todo o mundo, pudesse ser chamada de "vagabunda"
pela revista semanal de maior circulação no seu próprio país.

Enquanto isso, Roberto Romano é apresentado como "o filósofo" pelo jornal O
Globo, ao qual dá entrevistas em que acusa o blog da Petrobras de
"terrorismo de Estado". Terrorismo de Estado! Um blog! Está lá: O Globo, 10
de junho de 2009. Na época, matutei cá com meus botões: o que pensará uma
vítima de terrorismo de Estado real - por exemplo, uma família palestina
expulsa de seu lar, com o filho espancado por soldados israelenses - se lhe
disséssemos que um filósofo qualifica como "terrorismo de Estado" a
inauguração de um blog em que uma empresa pública reproduz as entrevistas
com ela feitas pela mídia? É a esse triste papel que se prestam os
acadêmicos amestrados, em troca de algumas migalhas de visibilidade.

A lambança mais patética aconteceu recentemente. Em artigo na Folha de São
Paulo, Marco Antonio Villa qualificava a política externa do Itamaraty de
"trapalhadas" e chamava Celso Amorim de "líder estudantil" e "cavalo de
troia de bufões latino-americanos". Poucos dias depois, a respeitadíssima
revista Foreign Policy - que não tem nada de esquerdista - apresentava o que
era, segundo ela, a chave do sucesso da política externa do governo Lula:
Celso Amorim, o "melhor chanceler do mundo", nas palavras da própria
revista. Nenhum contraponto a Villa jamais foi publicado pela Folha.

Poucos países possuem um acervo acadêmico tão qualificado sobre relações
raciais como o Brasil. Na mídia, os "especialistas" sobre isso - agora sim,
com aspas - são Yvonne Maggie, antropóloga que depois de um único livro
decidiu fazer uma carreira baseada exclusivamente no combate às cotas, e
Demétrio Magnoli, o inacreditável geógrafo que, a partir da inexistência
biológica das raças, conclui que o racismo deve ser algum tipo de miragem
que só existe na cabeça dos negros e dos petistas.

Por isso, caro leitor, ao ver algum veículo de mídia apresentar um
especialista, não deixe de fazer as perguntas indispensáveis: quem é ele?
Qual é o seu cacife na disciplina? Por que está ali? Quais serão os outros
pontos de vista existentes na mesma disciplina? Quantas vezes esses pontos
de vista foram contemplados pelo mesmo veículo? No caso da mídia brasileira,
as respostas a essas perguntas são verdadeiras vergonhas nacionais.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Comida de "macho" (Reflexões gastronômicas sobre gênero)


Outro dia, tive o prazer de conhecer um restaurante, meio que por acaso, no centro do Rio de Janeiro.

Queria comer uma comidinha mais caseira, tipo arroz com feijão, e me lembrei de algum lugar que tinha passado em frente, na Travessa do Ouvidor (centro do Rio).

Lá fui eu, então, à digníssima ruela em busca daquele restaurante que mais parecia uma galeteria das antigas. Balcão com muitos atendentes, bem cheio, e com a tradicional placa na porta com o preço da refeição escrito em giz branco.

Uma mulher perto do caixa me vê parar e olhar fixamente, meio sem entender o "esquema", aproxima-se e explica. São R$ 12.00 tudo: comida, refresco e sobremesa, mas não aceitamos cartão de crédito.

Olhei para dentro, expiei um pouco e resolvi andar mais e visitar outros lugares na rua, para só depois, voltar e experimentar a tal refeição que parecia robusta, no restaurante de nome exótico, "Esquimó". (Algo no mínimo antagônico ao calor que estava nos derretendo feito gelo, esses dias no Rio de Janeiro)

Então, tomei coragem (vocês já vão entender o porquê...) e entrei. Fui encorajada ainda mais com a "visão" de uma mulher, quase senhora, em meio a um amontoado de homens no balcão.
Lugar perto, não tinha... mas assentei-me decidida e resoluta no balcão de trás com meus companheiros "de rancho". Era um restaurante com alma "viril", quase uma confraria de machos; cspaço que poderia ser melhor entendido se pensarmos, comparativamente, nos salões de beleza, onde geralmente, mulheres, tendem a se sentir um tanto à vontade.
Gente, foi uma experiência!
Não fui educada para sentir-me mal por estar num ambiente com muitos homens ou em lugares ou atividades quase que estritamente masculinas. Aliás, adorava acompanhar meu pai nos eventos "sociais" dele quando era mais nova.
Mas há muito não entrava em um ambiente com tanta testosterona, tradições e ritualismos masculinos. Senti-me quase que uma espiã, desvendando segredos da masculidade. Alguém não exatamente malvisto(a) ou incoveniente ao ambiente, mas nitidamente fora de seu lugar.
Eram homens!!! Servindo, chegando, comendo, conversando... e papos já "acordados" tacitamente por garçons e clientes, que já sabiam os times de futebol uns dos outros, etc. Alguns garçons, vendo um cliente familiar chegar, escolhiam um lugar próximo e o convidava a se sentar.
A escolha da comida, dos acompanhamentos, parecia ser quase "adivinhada" pelo "companheiro" que o servia. "O de sempre?" "O de sempre, mas com salada de beterraba."

Um grupo de rapazes mais ou menos jovens que chegara, momentos depois, fazia brincadeiras continuamente com o senhor que os atendia, com sotaque espanhol, aumentando a cada meio minuto o número de pedidos do mesmo prato, bife à milaneza com ovos estalados... E o senhor gritava para algum outro "homem" que preparava o prato, mais à frente. Risonho, mas com voz firme e colocada, aumentava progressivamente a quantidade de bifes com ovos estalados: "quatro bifes com ovos...", "cinco bifes..." E o pedido era sempre refeito como num espetáculo cômico, projetado na voz solene deste garçon locutor.
Enfim, os sons groturais das vozes dos atendentes que faziam os pedidos combinavam com os sons da bateria de pratos e talheres sendo empilhados. Fazer barulho não só era permitido como parecia parte mesmo da sonoplastia viril do local. Quase que uma música para os ouvidos dos clientes habituais.
Mas se narrasse o cuidado com os pratos servidos, o tempo de chegada do pedido e o bom astral do atendimento, poderia fazer muita gente se enganar tendondo imaginar um ambiente "sem frescura". O que vi foi uma atenção e presteza como poucas vezes, em busca da satisfação do cliente cativo do lugar (o que cativava outros(as)... como eu).
A cena que presenciei de um garçon cortando em pedacinhos o mamão da sobremesa de seu cliente que estava com uma das mãos machucadas, foi de uma delicadeza até pouco viril.

Enfim, na fila para o pagar o PF deparei-me com uma reportagem na parede, sobre um chef francês famoso por aqui, que em visita ao local, elogiou a comida do lugar.

Quero muito voltar lá, mas já marquei a próxima visita com uma amiga, para não me sentir tão "fora do lugar" sozinha e poder apreciar novamente a gostosa e honesta comida, para macho nem fêmea nenhum botar defeito!
Desculpem-me os exageros de gênero... rs
Endereço: Travessa do Ouvidor, 36. Centro do Rio
Outros blogs que comentam o restaurante
comerbemrio.blogspot







sábado, 17 de outubro de 2009

caronas online!

www.bigoo.com.br


O bigoo é parte do dialeto recifense e quer dizer: carona!

Meu primo Davi e seus amigos, todos formados em Ciência da Computação da UFPE -, tiveram uma ideia genial: criaram um site de ofertas e aceitação de caronas !

O caroneiro e o que oferece carona tem que fazer um prévio cadatramento. Com isso há segurança, uma vez que você pode limitar a oferta de caronas apenas para seus amigos, para os amigos de seus amigos. Mas se quiser, a oferta poderá ser pública.

Leiam a reportagem no Diário de Pernambuco, http://www.diariodepernambuco.com.br/2009/09/29/urbana9_0.asp

Leiam também a excelente matéria nesse blog http://blogs.diariodepernambuco.com.br/meio_ambiente/?p=4215

Bigoo é um iniciativa simples que pode melhor a mobilidade nas nossas cidades.

Acessem www.bigoo.com.br

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Risada


Minha amiga ficou comigo na minha casa por uns dias. Fizemos tudo juntas: acordar na mesma hora; sincronizar o banho para não congestinar o dia; ela fazia almoço, eu lava as vasilhas; dormir na mesma hora e assim por diante. Foi tão bom ter sua presença. Essa amiga ri de tudo e ri alto. É engraçado: vê-la rir dá vontade de rir. A gente se pergunta: ela é mesmo feliz ou uma "boba-alegre" como se diz lá em Minas? Além disso me pergunto mais: por que eu não rio assim? Por que não cultivei a gargalhada frouxa, o falar "baboseira", falar da vida alheia, assistir novela das 6? Quando ela foi embora, fiquei triste, muito triste e sozinha. Sua presença preenchia a casa e era como um remédio para a minha solidão crônica. Preciso rir mais, mas preciso de gente ao meu lado: rir sozinha é coisa de doido solitário.

Incongruências da vida



Já tem um tempo que queria parar e escrever sobre algumas indiossincrasias que o viver acomete com a gente.
Ouvimos tantos ditados como “Deus escreve certo por linhas tortas” e outros afins a esta percepção bem humana da vida, mas nunca eles conseguem substituir as cores que os eventos trazem para estas quase conclusões da experiência que é viver.

O dia que você veste a camisola digna de uma “noite de núpcias” e melhor ela lhe cai, por exemplo, é aquele em que você está sozinha se namorando no quarto, com um bom livro na mão, uma música gostosa tocando e um espelho a lhe felicitar o olhar.

Você recebe aquela rosa vermelha, pelas mãos de uma amiga, em uma visita corriqueira no meio de uma terça-feira... E você de alguma forma intuía um encontro com a tal flor neste dia, pois o amor havia invadido sua pele, suas entranhas e tudo mais. E o causador desse sutil estado, sequer imaginou uma materialização tão bela da natureza para você.
O seu mais novo amigo pode vir a comer merecidamente o macarrão feito à mão com carinho, para um amor que pouco lhe correspondeu com o estômago ou órgãos afins.

A palavra amiga esperada, nem sempre corresponde ao que o coração pedia ouvir; mas o cérebro pega no tranco, quando falta ao coração, e te repatria a consciência sobre o que precisaria escutar.
Ou quem sabe a palavra mal colocada carregou toda a importância de um silêncio necessário?

É levando um fora carinhoso e terno que você pode ter a chance de redescobrir o amor, pelo impedido amor. Quem sabe começando bem um final, você reinicia poderosamente uma história de amores na vida?

Enfim... não nunca terá fim, estas incongruências . Parecem peças escritas infinitamente para serem mais ou menos bem ou mal interpretadas pela gente.

domingo, 9 de agosto de 2009

Aniversário


Vai chegando o aniversário da gente e vem vindo um monte de lembranças e balanços, mesmo que não queiramos.

Fiz uma arrumação no quarto, nas coisas, nas fotos, nos guardados, nos engavetados e esquecidos.

Joguei fora, aproveitei, coloquei e recoloquei no lugar; fiz algumas inovações.

Revi fotos e reli muita coisa íntima. Cartões, cartas, bilhetes...

Chorei, sorri e revivi coisas guardadas na alma também.

Mas, em especial, queria relatar o reencontro com um presente que ganhei no último aniversário que foi muito importante para mim. Aqueles presentes bem diferentes e, por isso, especiais.

Era uma espécie de um espelho. Uma carta que me descrevia muito bem (e os defeitos estavam incluídos, cuidadosamente rs).

Acho que a amiga, que confeccionou o presente inspirador, não pôde entender como esse "espelho" foi e continua sendo valioso.

Foi como um flash, uma fotografia de relance, mas que pegou um close que foi fundo, e me trouxe de algum lugar ali, de presente para mim.

E continua sendo uma imagem na qual me vejo sob vários aspectos, como um bom espelho.

Agradeceria à ela ainda agora, passado quase um ano, na véspera de uma outra "data querida".