quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal!



Meu colega da UFPB, Adriano de Léon, fotografou a obra de arte acima reproduzida no Shopping Sul, no bairro dos Bancários na capital da Paraíba, João Pessoa.

Trata-se da "Fuga de Jesus para o Egito" - passagem remarcável na odisséia bíblica em que Maria e José fogem com o menino Jesus para que ele não seja morto pela ira do rei Herodes, que havia mandado matar todas as crianças menores de 2 anos de idade.

Reparem que a paisagem não é nada parecida com a de Israel, antigamente Galiléia.... Há picos nevados, pinheirinhos de natal... o que produz uma sensação de fora do lugar.

Mas o simplório pode ser singelo...

Simplicidade, pureza de coração é assim que quero passar este natal, atenta as coisas simples, sem olhar as contradições do mundo, focando no essencial: a fuga do mal. O resto é paisagem.











domingo, 20 de dezembro de 2009

Conselhos para um 2010




  • Sobre as suas metas para o Ano Novo



Anote os seus querê e pendure num lugar que você enxergue todo dia.

Mesmo que seus objetivos estejam lá prá baixa da égua, vale à pena correr atrás. Não se agonie e nem esmoreça. Peleje.

Se vire e mêta o pé na carreira, pois pra gente conseguir o que quer, tem é Zé.

Lembre que pra ficar estribado é preciso trabalhar. Não fique só frescando.


  • Sobre o amor

Não fique enrolando e arrudiando prá chegar junto de quem você gosta. Tome rumo, avie, se avexeü Dê um desconto prá peste daquela cabrita que só bate fofo com você. Aperreia ela. Vai que dá certo e nasce um bruguelim réi amarelo.

Você é um corralinda. Se você ainda não tem ninguém, não pegue qualquer marmota. Escolha uma corralinda igual a você.

Não bula no que tá quieto. Num seja avexado, pois de tanto coisar com uma, coisar com outra, você acaba mesmo é com um chapéu de touro.ü As cabritas num devem se agoniar. O certo é pastorar até encontrar alguém pai d'égua. Num devem se atracar com um cabra peba, sem futuro, malamanhado e fulerage.

O segredo é pelejar e não desistir nunca. Num peça pinico e deixe quem quiser mangar. Um dia vai aparecer um machoréi bem massa.



  • Sobre o trabalho

Trabalhe, num se mêta a besta. Quem num dá um prego numa barra de sabão num tem vez não.

Se você vive fumando numa quenga, puto nas calças e não agüenta mais aquele seu chefe réi fulerage, tenha calma, não adianta se ispritar.Se ele não lhe notou até agora é porque num tá nem aí se você rala o bucho no trabalho. Procure algo melhor e cape o gato assim que puder.

Se a lida não está como você quer, num bote boneco, num se aperreie e nem fique de lundu. Saia com aquele magote de amigos pra tomar uns merol.Tome umas meiotas e conte uma ruma de piadas que tudo melhora.



  • Sobre a sua vidinha

Você já é um cagado só por estar vivo. Pense nisso e agradeça a Deus.

Cuide bem dos bruguelos e da mulher. Dê sempre mais que o sustento, pois eles lhe dão o aconchego no fim da lida.

Não fique resmungando e batendo no quengo por besteira. Seje macho e pense positivo.

Num se avexe, num se aperreie e nem se agonie. Num é nas carreira que se esfola um bode.



  • Arrumação motivacional

No forró da entrada do ano, coma aquela gororoba até encher o bucho. É prá dar sorte, mas cuidado, senão dá gastura.

Tome um burrim e tire o gosto com passarinha ou panelada que é prá num perder a mania.

Prá começar o ano dicunforça: Reflita sobre as besteiras do ano passado e rebole no mato os maus pensamentos.

Murche as orêia, respire fundo e grite bem alto:


Agora é só levantar a cabeça e desimbestar no rumo da venta
que vai dar tudo certo em 2010.

Peeeeennnnse num ano que vai ser muito bom.
Respeite como vai ser pai d’égua esse 2010.

sábado, 19 de dezembro de 2009

"Para Sara..."


Este post é uma forma de agradecimento a uma das leitoras do blog.

Ela nem imagina, mas seu "puxão de orelha" falando sobre a falta que sentia de novos escritos no blog, trouxe-lhe um novo fôlego, um suspiro, uma sacudida...

E o importante é que ela disse das sensações dela. (Ela se expressou com palavras como "tão, tão tranquilo..." o sentimento que trazia para ela as leituras. E disse também que, por vezes, ficava com aquilo que lia na cabeça durante a semana.)

Tão, tão bom ouvir isto... (plagiando a nossa querida leitora pernambucana.)

Isto tudo serve para dizer de algo tão importante ou fundamental para que qualquer coisa aconteça, para que qualquer palavra tessa... O outro, a outra... que está bem ali do outro lado, mesmo que imperceptível.

Tantos e tantas reflexões, textos e elocubrações sobre a "alteridade" em nossas vidas, que nos dá outros significados, olhares e tantas "contrapalavras", como dizia um filósofo russo da campo da linguagem, Bakhtin, que gosto tanto de estudar.

Bem, ele diz que o outro é capaz de nos dar "acabamento". O outro ou a outra (a Sara, por exemplo, no caso) foi quem nos deu acabamento... disse-nos do que causa a ela nossas palavras... nossos escritos. E a partir daí sabemos que vale mesmo a pena (da caneta rs) . Ela nos dá "validade", validade às nossas enunciações, termo caro a este filósofo russo de que falei. É uma dádiva porque ela acaba nos dando oportunidade para expandirmos ou modificarmos algo da nossa "autoconsciência".

Ela nos dá esse acabamento tão necessário a nossa "auto-estima"- noção posta em dúvida por um psicanalista de quem tb gosto muito, Contardo Calligaris - que para ele (e pra mim tb) não parece ser tão "auto" assim; de repente, é mais "alter"- estima. rs

Obrigada, Sara!

Veja como o(a) leitor(a), o(a) apreciador(a), o(a) ouvinte pode ser parte tão integrante da arte, como a própria arte ou o seu criador; é parte imprescindível desta "arquitetônica" que constitui qualquer criação estética, teórica, etc.

Abraço grande
Obs.: Esta imagem de aquarela linda de uma artista mineira já foi postada no blog em outubro do ano passado e suas referências estão no post "Cozinhando com as Meninas Gerais..." out/2008.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Antropologia Cômica!






Royal Anthropological Institute (UK) lançou a International Anthropology Cartoon Contest em julho de 2009. Parece que a disputa foi um sucesso, com a participação de vários países, inclusive o nosso. A ideia era abordar temas antropológicos de uma maneira cômica e diferente.








Algumas das charges podem ser vistas em http://www.flickr.com/photos/raieducation








Vou deixar aqui a que levou o segundo lugar:
















terça-feira, 8 de dezembro de 2009

"(Não) atire no dramaturgo"!


Há uns três dias atrás, acho que no dia 5 de dezembro, vi no jornal a notícia de que um dramaturgo em São Paulo, havia sido alvejado por tiros dentro de um bar durante a madrugada, enquanto comemorava um espetáculo escrito e dirigido por ele, "Brutal".

Já falei aqui sobre coincidências e não vou me ater a elas no caso, porque considero até de mal gosto, no momento.

Mas que é "Brutal" um crime como este, assim como outros vários atos de violência quase gratuita que ouvimos, lemos ou assistimos e que enchem as páginas dos jornais e sites de notícias do nosso país diariamente... não preciso mesmo comentar.

Como gosto e me identifico cada vez mais com o mundo da literatura, do teatro, do cinema e de artes afins, meu interesse se desviou do crime violento e passeou, querendo conhecer melhor este homem, Mário Bortolotto.
Dado em "estado grave", ele poderia deixar de fazer suas artistagens antes mesmo de eu ter o prazer de saber da sua existência. Isto tudo devido a um tiro, ou mais tiros, cravejados em seu peito em uma das tantas boas noites em que esteve bebendo, cantando e curtindo os amigos; o que parecia ser parte de sua filosofia de vida e inspiração para sua arte.

Descobri, então, seu blog pelos órgãos de notícia e quando li o título... (Sinto contrariá-lo, Mário, mesmo convalescente e indisponível no momento para qualquer discordância ou debate com uma leitora novata e meio chata... ) Decidi incluir nele uma palavra, sem sequer pedir sua permissão, pelo menos no meu blog. Trata-se de um "não"... bem no início do título, que só traria mais tranquilidade ao meu coração, quiçá das pessoas que já te conheciam e admiravam.

Sabe essas coincidências atrozes, das quais prometi não falar? E não preciso... só necessito reproduzir aqui o nome do blog e de um livro com o mesmo nome, escrito pelo danado desse Bartolotto: "Atire no dramaturgo" ( http://atirenodramaturgo.zip.net/ )
E não é que dá vontade mesmo de apagar ou mudar algo?! "Palavras minhas, palavras suas", como já dizia o ditado.
A principal e mais feliz descoberta desta incursão, porém, foi uma empatia genuína com seu jeito maroto, intenso e inadaptado de escrever, pensar, viver... Com certeza, despertou minha vontade de ler seus escritos, ouvir as músicas que tanto recomenda e ver quem sabe alguma de suas peças, com certeza. (De cá, já rezo por sua pronta recuperação).
Queria deixar só uma palhinha aqui para vocês, de um trecho em que em meio a uma reclamação, ele dá uma "receita" de como adaptar suas histórias para seus futuros encenadores.
"Aconselho a quem quiser se aventurar a encenar algum outro texto meu (...) a ler muito gibí, ver muito filme alternativo (...) e inclusive, muito filme "B". Esqueçam David Lynch, Almodovar, Lars Von Trier, etc. Eu não tenho nada a ver com isto. Tentem ler os caras que realmente mudaram a minha vida (Bukowski, Spillane, Henry Miller, ...). Também tem que sair pra rua, beber até de manhã com alguns amigos engraçados e apaixonados."
(Estou com problemas no copiar e colar, rs . Vou adicionar o texto depois. Mas, podem ir ao blog dele no post do dia 29/11)
Ah, ele tem um conjunto bacana de rock e blues com amigos, do qual ele é o vocalista e compõem músicas, chama-se "Saco de ratos". Eles se apresentam em galerias alternativas em São Paulo.
Para finalizar, saúde, Mário Bartolotto! E prazer em conhecê-lo mesmo num momento assim, tão delicado. (Mas, você não me pareceu ser mesmo muito convencional.)
Obs.: A foto postada foi retirada do blog do dramaturgo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Acadêmicos amestrados Por Idelber Avelar

Acadêmicos amestrados

Por Idelber Avelar [Terça-Feira, 1 de Dezembro de 2009 às 15:31hs]

Se um marciano aterrissasse hoje no Brasil e se informasse pela Rede Globo e
pelos três jornalões, seria difícil que nosso extra-terrestre escapasse da
conclusão de que o maior filósofo brasileiro se chama Roberto Romano; que
nosso grande cientista político é Bolívar Lamounier; que Marco Antonio Villa
é o cume da historiografia nacional; que nossa maior antropóloga é Yvonne
Maggie, e que o maior especialista em relações raciais é Demétrio Magnoli.
Trata-se de outro monólogo que a mídia nos impõe com graus inauditos de
desfaçatez: a mitologia do especialista convocado para validar as posições
da própria mídia. Curiosamente, são sempre os mesmos.

Se você for acadêmico e quiser espaço na mídia brasileira, o processo é
simples. Basta lançar-se numa cruzada contra as cotas raciais, escrever
platitudes demonstrando que o racismo no Brasil não existe, construir
sofismas que concluam que a política externa do Itamaraty é um desastre,
armar gráficos pseudocientíficos provando que o Bolsa Família inibe a
geração de empregos. Estará garantido o espaço, ainda que, como acadêmico, o
seu histórico na disciplina seja bastante modesto.

Mesmo pessoas bem informadas pensaram, durante os anos 90, que o elogio ao
neoliberalismo, à contenção do gasto público e à sanha privatizadora era uma
unanimidade entre os economistas. Na economia, ao contrário das outras
disciplinas, a mídia possuía um leque mais amplo de especialistas para
avalizar sua ideologia. A força da voz dos especialistas foi considerável e
criou um efeito de manada. Eles falavam em nome da racionalidade, da verdade
científica, da inexorável matemática. A verdade, evidentemente, é que essa
unanimidade jamais existiu. De Maria da Conceição Tavares a Joseph Stiglitz,
uma série de economistas com obra reconhecida no mundo apontou o beco sem
saída das políticas de liquidação do patrimônio público. Chris Harman,
economista britânico de formação marxista, previu o atual colapso do mercado
financeiro na época em que os especialistas da mídia repetiam a mesma
fórmula neoliberal e pontificavam sobre a "morte de Marx". Foi
ridicularizado como dinossauro e até hoje não ouviu qualquer pedido de
desculpas dos papagaios da cantilena do FMI.

Há uma razão pela qual não uso aspas na palavra especialistas ou nos
títulos dos acadêmicos amestrados da mídia. Villa é historiador mesmo,
Maggie é antropóloga de verdade, o título de filósofo de Roberto Romano foi
conquistado com méritos. Não acho válido usar com eles a desqualificação que
eles usam com os demais. No entanto, o fato indiscutível é que eles não são,
nem de longe, os cumes das suas respectivas disciplinas no Brasil. Sua
visibilidade foi conquistada a partir da própria mídia. Não é um reflexo de
reconhecimento conquistado antes na universidade, a partir do qual os meios
de comunicação os teriam buscado para opinar como autoridades. É um uso
desonesto, feito pela mídia, da autoridade do diploma, convocado para
validar uma opinião definida a priori. É lamentável que um acadêmico, cujo
primeiro compromisso deveria ser com a busca da verdade, se preste a esse
jogo. O prêmio é a visibilidade que a mídia pode emprestar - cada vez menor,
diga-se de passagem. O preço é altíssimo: a perda da credibilidade.

O Brasil possui filósofos reconhecidos mundialmente, mas Roberto Romano não
é um deles. Visite, em qualquer país, um colóquio sobre a obra de Espinosa,
pensador singular do século XVII. É impensável que alguém ali não conheça
Marilena Chauí, saudada nos quatro cantos do planeta pelo seu A Nervura do
Real, obra de 941 páginas, acompanhada de outras 240 páginas de notas, que
revoluciona a compreensão de Espinosa como filósofo da potência e da
liberdade. Uma vez, num congresso, apresentei a um filósofo holandês uma
seleção das coisas ditas sobre Marilena na mídia brasileira, especialmente
na revista Veja. Tive que mostrar arquivos pdf para que o colega não me
acusasse de mentiroso. Ele não conseguia entender como uma especialista
desse quilate, admirada em todo o mundo, pudesse ser chamada de "vagabunda"
pela revista semanal de maior circulação no seu próprio país.

Enquanto isso, Roberto Romano é apresentado como "o filósofo" pelo jornal O
Globo, ao qual dá entrevistas em que acusa o blog da Petrobras de
"terrorismo de Estado". Terrorismo de Estado! Um blog! Está lá: O Globo, 10
de junho de 2009. Na época, matutei cá com meus botões: o que pensará uma
vítima de terrorismo de Estado real - por exemplo, uma família palestina
expulsa de seu lar, com o filho espancado por soldados israelenses - se lhe
disséssemos que um filósofo qualifica como "terrorismo de Estado" a
inauguração de um blog em que uma empresa pública reproduz as entrevistas
com ela feitas pela mídia? É a esse triste papel que se prestam os
acadêmicos amestrados, em troca de algumas migalhas de visibilidade.

A lambança mais patética aconteceu recentemente. Em artigo na Folha de São
Paulo, Marco Antonio Villa qualificava a política externa do Itamaraty de
"trapalhadas" e chamava Celso Amorim de "líder estudantil" e "cavalo de
troia de bufões latino-americanos". Poucos dias depois, a respeitadíssima
revista Foreign Policy - que não tem nada de esquerdista - apresentava o que
era, segundo ela, a chave do sucesso da política externa do governo Lula:
Celso Amorim, o "melhor chanceler do mundo", nas palavras da própria
revista. Nenhum contraponto a Villa jamais foi publicado pela Folha.

Poucos países possuem um acervo acadêmico tão qualificado sobre relações
raciais como o Brasil. Na mídia, os "especialistas" sobre isso - agora sim,
com aspas - são Yvonne Maggie, antropóloga que depois de um único livro
decidiu fazer uma carreira baseada exclusivamente no combate às cotas, e
Demétrio Magnoli, o inacreditável geógrafo que, a partir da inexistência
biológica das raças, conclui que o racismo deve ser algum tipo de miragem
que só existe na cabeça dos negros e dos petistas.

Por isso, caro leitor, ao ver algum veículo de mídia apresentar um
especialista, não deixe de fazer as perguntas indispensáveis: quem é ele?
Qual é o seu cacife na disciplina? Por que está ali? Quais serão os outros
pontos de vista existentes na mesma disciplina? Quantas vezes esses pontos
de vista foram contemplados pelo mesmo veículo? No caso da mídia brasileira,
as respostas a essas perguntas são verdadeiras vergonhas nacionais.