sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O Grande Chefe/ Lars von Trier


“O grande chefe” (2006), uma comédia de Lars Von Trier? O que será uma comédia de Lars Von Trier? Acostumada a debulhar-me em lágrimas com filmes como “Dançando no Escuro/ Dancing in the Dark” (2000) e “Ondas do Destino /Breaking the Waves” (1996) e ficar dias matutando sobre filmes como Maderlay (2005) e Dogville (2003), pensei comigo, será que ele sabe fazer comédia?

O filme certamente, não suscita gargalhadas intermitentes, mas com certeza, deixa o espectador grudado na trama com um sorriso maroto iminente.

O que tem de bom nos filmes do Lars Von Trier, na minha (leiga) opinião, é o elemento surpresa. A gente não consegue prever nada. O desenrolar da estória sempre vai por caminhos nunca imaginados. O inusitado começa pelos enredos.

Neste, o dono de uma empresa contrata um ator para fingir ser o presidente numa transação comercial complicada, a venda da companhia. O espectador não sabe por que diabos ele faz aquilo, mas o filme vai se mostrando (e dando) aos poucos. Na verdade, o dono da empresa, buscando ser amado por seus funcionários, cria esta figura hedionda, o grande chefe, que é quem toma todas as decisões antipáticas. Demite os funcionários; faz críticas, corte de salários e benefícios. Mas que, convenientemente, nunca está presente. Na verdade, com a comunicação virtual, não haveria necessidade de um presidente presente (e o filme pode ser visto por este prisma: o mercado de trabalho e as empresas no século XXI), mas a venda da empresa exige a sua assinatura, e é aí que o ator entra em cena.

O potencial comprador da empresa, um finlandês, e sua xenofobia contra os dinamarqueses e seu sentimentalismo, é um dos pontos altos do filme. (Li numa entrevista com o diretor, que os dinamarqueses adoram ser chamados de burros!) Assim, como toda a atuação do ator que faz o ator fazendo “o chefe”. Nota dez.

A única ressalva que eu faço é a uma voz de fundo, que parece ser a do diretor mesmo, que de tempos em tempos aparece para dar uma parada no ritmo da comédia. Eu não gostei ou não entendi, acho que não precisava. Pena eu não entender dinamarquês, imagino ter perdido muito com a tradução.

Outro fator comum aos filmes do enfant terrible do cinema dinamarquês é que os personagens centrais são geralmente bons e inocentes. Pelo menos, é assim à primeira mirada. Ao decorrer do filme eles cometem atrocidades, mas não por que quiseram, mas por que foram envolvidos pelo destino numa trama horrenda de sofrimento. São como os heróis da tragédia grega: não podem fugir das armadilhas do destino. São tomados, possuídos. Ao expectador, fica a perplexidade diante do espetáculo da vida.

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