quarta-feira, 4 de março de 2009

Ressaca de Carnaval!


... Ou, mais polidamente, reflexões pós-Carnaval

Ao telefone com uma amiga de longe, vou narrando o Carnaval, as crônicas de uma figura já cansada das firulas carnavalescas.
Vou sendo tão tragicômica na narração que a amiga aos risos (de algo que nem eu sei se achava mais uma comédia) me aconselhava a escrever. “Você tem que escrever isto!" kkkk
Acho que ela estava rindo era de mim mesmo, do meu tom de voz, meio desconsolado; já meio desapegado, analítico e tragicômico, sobretudo.
Bem, passamos ao cumprimento do trato feito (com ela.)
Dizia à ela que o Carnaval é mesmo o arquétipo perfeito da imagem do pierrô. Metade alegre, felizinho da vida; metade triste, morococho.
Que todo mundo se apronta e se diverte à sua maneira, mas não damos conta sempre de compartilhar as mesmas expectativas carnavalescas (ou as nossas neuroses, sendo mais direta)
Eu mesma... gosto muito de falar coisas que nunca falaria, se não estivesse fantasiada; de conversar com pessoas completamente desconhecidas no meio do caminho, ou dentro do bloco. O que seria mais divertido do que pular Carnaval com desconhecidos irmanados na fantasia de se despir da nossa “velha” persona de todo dia? Acabo com quase toda a vergonha, aproveitando-me da situação que a minha nova personagem criou. Rs
Esse é o meu barato! Minha válvula de escape tupiniquim. É algo completamente lúdico (tentando falar bonito outra vez).
O carnaval é muito importante. Importantíssimo! Só não consigo levar muito à sério. Não consigo me estressar com compromissos de Carnaval, mas me impaciento com quem se estressa e não gosta do sabor do improviso. (Esse é justamente o meu outro lado do pierrô : ( )

Carnaval é o momento de uma certa ausência de lei; onde é permitido não funcionar tão bem, ou pelo menos, não levar os erros banais à sério. É o momento da inversão saudável de valores. A festa onde o pobre pode virar rei e rainha; o machão uma mulher assanhada; a santinha, uma prostituta, etc. (Posso até citar fontes antropológicas, para os que necessitam delas... Roberto Da Matta, como alguns de nós sabem, trata disso num livro clássico da Antropologia brasileira, “Carnavais, Malandros e Heróis”; que eu mesma tive que fichar.)
Mas, voltando mesmo às vacas frias, com o meu próprio “sentido sem direção” sobre o Carnaval... (citação inspirada numa pichação de rua, numa encruzilhada, em Santa Teresa).
Simplesmente acho que não há como prever muitas coisas durante o Carnaval.
O bloco vai sair mais cedo ou vai atrasar... Vai marcar de manhã e sair à tarde, ou vice-versa - como aconteceu com um dos meus preferidos este ano.
Você marcou de encontrar os amigos do outro lado da cidade... e tem um bloco no meio do caminho da vã que você já arriscou pegar porque é Carnaval e os ônibus vão demorar. Só que o motorista da vã faz o caminho que quer e, às vezes, isto dá zebra. (Isto aconteceu comigo também, acreditem).
É melhor, então, sintonizar outra estação e colecionar pérolas que ouve no meio do engarrafamento. Um carinha insistindo sorridentemente, na proposta indecorosa de te beijar pela janela da vã.
“Vou beijar-te agora, não me leve à mal, hoje é Carnaval!”
A senhora meio tonta fazendo convites libidinosos e engraçados aos mocinhos que entravam no veículo.
Bem, e é assim mesmo que pode surgir um novo bloco: “Tô no bloco da vã apertada e presa no engarrafamento!”, como dizia um rapaz ao celular para algum folião que o esperava pela cidade à fora.
E o Carnaval mesmo - e o melhor do Carnaval - se faz deste improviso, na minha modesta opinião. rs
Do atraso... quando meus amigos não puderam me esperar tomar café, é que pude conhecer uma foliã engraçadíssima, a Leila, super paramentada, e com certeza (àquela hora da manhã) indo para o mesmo bloco que eu. Isto foi o suficiente para racharmos um táxi para o mesmo destino e no caminho, ela me dar altas dicas de blocos e fantasias interessantes que ela já improvisou. Isto sim é que é foliã de verdade!
Agora, coisa mais importante ainda é refletir sobre os sapos e príncipes encantados carnavalescos...
É que eles aparecem de maneiras bem diferentes do que em quase todos os outros contos de fada! Rsrsrsrs
Talvez, você o encontre voltando pra casa, depois de tomar um banho de mangueira no bloco e de desmanchar toda a sua carregada maquiagem.
Ele, vindo em direção oposta a sua, meio destrambelhado e descabelado - vestido de palhaço, claro - e sem remediar, meio tonto; pisa, então, no seu pé e o acerta em cheio.
Sendo um cara lá no fundo bacana e já tendo brincado com todas as garotas que encontrou pela frente; vai poder fazer juras de amor ao seus pés. Se bobear, vai beijar o seu pé (sujo) e declamar que nunca viu uma "chapeuzinho vermelho" tão bonitinha. (E você jurando que fez todo esforço do mundo para se fantasiar de cigana.) Hehehe
Isto não é ultrarromântico?!
(Olha o que a reforma ortográfica fez com esta palavra! Não, não fui eu, sozinha.)
Então, o Carnaval é propedêutico: ensina a gente a relativizar! (Aula de Antropologia para foliões iniciantes.)
Você pode sair muito bem acompanhada(o) para um bloco, com os seus melhores amigos foliões e, de repente, dar-se conta de que pulou o bloco inteiro sozinha (sem eles) e se divertiu muito.
Se perder, no Carnaval, é se encontrar!
No mais... as marchinhas vão começando a diminuir o ritmo e ajudando a gente a engatar a primeira para o ano de trabalho e desafios a que nos propomos.
Final da apuração...
Óculos de sol perdido
Uma febre terçã
Dores no corpo
Rosto quase descascando
E o ganho de uma ressaca que deve ser eliminada da cabeça por uma amnésia quase que desconhecida...
Porque ano que vem tem mais!
E faço minhas as palavras que Chico Buarque lindamente compôs: “ tô me guardando pra quando o Carnaval chegar” .

Um comentário:

Fernanda Fiuza disse...

hummm
um gatinho vestido de palhaço beijando seus pés...
ah o carnaval!
adorei o post!